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A corrida da lebre com a tartaruga

  • 19 de outubro de 2016 - 10:11

Adary Oliveira – VP da ACB – Doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha

Imagine uma corrida entre uma lebre e uma tartaruga que seguem por uma pista numa mesma direção e num mesmo sentido. Se a distância entre os dois animais for medida pela letra D, é possível, seguindo um raciocínio lógico, provar que a lebre nunca alcança a tartaruga. Assim, depois de a lebre percorrer metade de D, a tartaruga teria percorrido uma pequena distância. Neste caso, a nova distância entre a lebre e a tartaruga passaria a ser D1, menor do que D. Prosseguindo, quando a lebre tiver percorrido metade de D1, a tartaruga teria avançado mais um pouco, e a nova distância entre os dois animais seria D2. E deste modo, repetindo indefinidamente o raciocínio, poderíamos imaginar que sempre que a lebre avançasse metade da distância que a separa da tartaruga, a tartaruga avançaria mais um pedaço e chegaríamos a um resultado absurdo de que a lebre nunca alcançaria a tartaruga. Esse problema só foi resolvido pela matemática com a introdução do conceito de limites pelo matemático francês Augustin Louis Cauchy, sendo fácil demonstrar que o coelho alcançaria a tartaruga no limite, quando a distância D tendesse para zero.

No planeta Terra a humanidade esteve sempre em conflito. Por razões religiosas ou por motivos políticos, ou mesmo por capricho de governantes, estamos sempre em guerra, embora todos os povos se manifestem pelo desejo da paz. Nessa competição, inversamente do que acontece na corrida entre a lebre e a tartaruga, tudo indica que o estado de paz vai prevalecer sobre o estado de guerra, mas termina acontecendo ao contrário e a paz vai ser sempre suplantada pela guerra que estoura em outro lugar do planeta. Se de um lado, a maioria da população do mundo deseja a paz, do outro lado, os fabricantes de armas, sempre vão estar a favor da guerra, procurando buscar a sobrevivência fabricando meios de destruição.

Num outro exemplo, as forças da economia que produzem a má distribuição de renda, gerando a existência de ricos e pobres, comandam uma corrida que resulta num número de pobres muitas vezes superior ao número de ricos, ficando estes com a maior parte do bolo. Apesar das manifestações de todos os povos sejam no sentido de eliminar esse tipo de determinismo, quem é rico sempre procura trabalhar mais para se manter rico e quem é pobre vai sempre procurar sair da pobreza, resultando um desejo de todos de caminharem num mesmo sentido, num salve-se quem puder que acaba condenando a maioria dos pobres a permanecerem na pobreza. Há uma expressão popular que diz “o rio corre sempre para o mar” e mesmo existindo cientificamente a crença de uma mão única na transferência de energia, da fonte dotada de mais energia para a fonte possuidora de menos energia, regida pelo segundo princípio da termodinâmica, as desigualdades continuarão crescentes. Ainda que haja empenho de todos para obtenção de uma melhor distribuição de renda e se deposite esperança na confiança de que as desigualdades devam desaparecer, cada dia se verifica maior concentração de renda entre as pessoas, inclusive nos países mais ricos.

Para citar um outro exemplo de corrida, todos sabemos que a educação liberta as pessoas. Através da educação se pode ascender a classes sociais com melhores condições de vida. No entanto, são poucas as pessoas que por si só conseguem romper a inércia da deseducação a não ser recebendo apoio do governo ou de outras pessoas, parentes ou não. A corrida para manter-se na escola sem ajuda de terceiros e com boas condições econômicas e de saúde, é muito penosa e muitos não conseguem distender o esforço necessário para obter o sustento através do trabalho e frequentar a escola ao mesmo tempo. Pelo bom resultado que se pode obter com a educação, é incompreensível como muitas pessoas, mesmo recebendo apoio não conseguem ser livres, inserindo-se na parcela da população mundial condenada a uma vida sub-humana por não ter educação. Isso poderia parecer impossível, mas é mais que real no mundo de hoje.

Assim, o homem, na corrida pela paz, na luta pela educação, na fuga da pobreza, na vida sem fome e sem doença, e na batalha diária pela sobrevivência, tentará por todos os meios inverter as leis naturais, e a lebre sempre vencerá a tartaruga nas corridas, mesmo que se pretenda acreditar na possibilidade do contrário.

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