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Ainda sobre a integração dos estados do Nordeste

  • 28 de junho de 2016 - 12:27

Adary Oliveira – VP da ACB – Doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha

No meu segundo artigo do mês de maio deste ano, escrevi sobre a necessidade de aprofundamento de estudos das cadeias produtivas regionais capazes de apontar o melhor caminho para o desenvolvimento do Nordeste. Ressaltei o eixo-químico Bahia-Sergipe-Alagoas-Pernambuco, a produção de insumos básicos da indústria de fertilizantes na Bahia e Sergipe, a produção de petróleo e gás onshore e outros setores industriais como o da indústria têxtil, metalomecânica, de bens de capital, de celulose e papel, de transformação petroquímica e projetos de infraestrutura, que poderiam contribuir para o fortalecimento do Nordeste. Pois bem, veja o que diz Fernando Henrique Cardoso em sei livro Diários da Presidência – Volume I, relatando encontro com Cícero Lucena, governador da Paraíba:

“Depois de ler os jornais, fui para o Palácio, onde recebi o Cícero Lucena, queixoso porque até hoje não tinha arrumado a estrutura administrativa dele, o que é incompreensível. Dei mão forte a ele, conversei sobre o Nordeste e disse uma frase temerosa, mas que acho uma verdade: o Nordeste é como a América Latina – não existe. O que existe são vários estados, assim como existem vários países, cada um com seus problemas, pode ser que um ou dois se agrupem para cada lado, mas não mais o Nordeste no seu conjunto. Eles só se unem na hora de pedir dinheiro para o Tesouro. Aí, sim, se unem, os governadores costumam fazer isso mesmo. Não existe a mística do Nordeste. Existe o Ceará, o Maranhão, o Pernambuco, a Bahia etc.

Lucena sabe disso. Está decepcionado com as tentativas que fez de organizar um projeto para o Nordeste a partir dos governadores. Cada um só pensa no seu pedaço. E do Congresso não sai nada sobre o Nordeste. Não porque não queiram; é porque a diversidade de situações é muito grande, e pouca coisa os une neste momento a não ser essa ficção do passado. No passado estavam unidos pela miséria, e mesmo pela ideia de que podem pedir dinheiro à União. É difícil dizer isso, mas é verdadeiro”.

Muitas matérias primas e produtos intermediários da indústria que têm origem no Nordeste e abastecem as indústrias das regiões Sul e Sudeste, retornam para cá depois de um longo e desnecessário passeio de moléculas, na forma de produtos finais de valor agregado muitas vezes maior. A interação, a troca de informações e conhecimentos entre pessoas e empresas poderiam gerar economias e aumentar os ganhos, concorrendo com os produtos importados com larga vantagem.

No passado, simples reuniões do Conselho Deliberativo da Sudene, órgão que reunia os governadores dos estados do Nordeste, dava motivo para defesa de projetos regionais e ações políticas que fortaleciam a região. O Nordeste não contribuía apenas com os votos de seus habitantes, mas com força política que respaldavam as reivindicações regionais. A força política crescia e passava a representar não um estado isolado, mas toda uma região. Talvez tenha sido esse um dos motivos do esvaziamento da Sudene.

Os três maiores portos brasileiros, de Santos, do Rio de Janeiro e de Vitória, todos localizados no Sudeste, são as principais portas de entrada de produtos importados pelo Brasil e, ao repassarem para os estados consumidores os produtos manufaturados,obtêm vantagens que se somam aos ganhos decorrentes da compra de commodities primárias e subsequente devolução de produtos acabados. Se os estados do Nordeste ampliassem a transformação industrial em seu território e importassem bens por seus portos, diminuiriam essas perdas e fortaleceriam a economia regional.

As entidades empresariais, os órgãos do governo e mesmo as empresas de uma mesma cadeia produtivapoderiam participar de grupos de trabalho, buscando a identificação de sinergias, soluções logísticas e absorção conjunta de tecnologias, por exemplo. Em reuniões periódicas, passo a passo, se iria construindo um sistema capaz de reduzir as perdas que atualmente condena o Nordeste a ser um mero fornecedor de materiais de baixo custo e mão de obra barata, conferindo-lhe maior poder de barganha e criando meios próprios para seu desenvolvimento auto sustentado.

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