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Por Adilson Fonsêca
Responsável por mais de 70% das vendas no comércio varejista em todo o país, o cartão de crédito, se por um lado é uma garantia contra a inadimplência junto aos lojistas, por outro lado, é uma verdadeira armadilha para quem o usa tendo como fonte de receita apenas o limite oferecido pelos bancos. O resultado dessa combinação é que 76% das dívidas das famílias brasileiras têm como causa o cartão de crédito.
Foi o que mostrou a mais recente Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), que revelou que 76,4% do total das dívidas dos brasileiros devem-se ao uso indiscriminado do cartão de crédito. O mais grave é que esse percentual é ainda maior (77,2%) quando se tratam de famílias que têm renda mensal de até 10 salários mínimos.
Segundo a pesquisa da CNC, enquanto as dívidas com cartão de crédito respondem por 76,4% do total de endividamento das famílias, os carnês (crediário) representam 16,2%, contra 5,7 % dos cheques consignados, cujos usuários são basicamente funcionários públicos, pensionistas e aposentados, e 6,3% do cheque especial. Em todas as situações de endividamento, contudo, os maiores devedores são as famílias com até 10 salários mínimos de rendimento mensal.
O presidente do Sindicato dos Lojistas da Bahia (Sindilojas), Paulo Mota, diz que as compras com o uso de cartão de crédito hoje representam mais de 70% da movimentação do comércio varejista em Salvador. Para ele, o cartão é uma garantia para os lojistas, pois oferece 100% de garantias contra a inadimplência do consumidor. “O problema é que com o aumento da inadimplência, esses clientes ficam impedidos de irem às compras, influindo diretamente no desempenho das vendas”, diz. “Um exemplo disso é que o Dia das Criança, teve queda de 2% nas vendas em relação a igual período do ano passado” destacou.
Cartões para inadimplentes – Mesmo com os riscos da inadimplência, a oferta de cartões de crédito continua em alta não só pelos bancos, mas por estabelecimentos comerciais que possuem cartões próprios de financiamento. É o caso dos chamados cartões “free”, onde o cliente mesmo o com algum tipo de pendência financeira, recebe um cartão de crédito com o limite de movimentação reduzido, mas que lhe dá direito da compra a prazo.
O presidente do Sindilojas explica que essa é uma estratégia de manter o cliente fiel à uma determinada instituição, banco ou loja, mas que os riscos da inadimplência passam a ser da entidade que emitiu os cartões. “Para o comércio é sempre melhor a compra com cartões, pela garantia de ser um recurso que entra nos caixas, mas também pela segurança de quem antes costumava andar com dinheiro nas mãos”, diz.
Na pesquisa da CNC chama a atenção o fato de que as famílias que têm renda mensal de até 10 salários mínimos, os cartões de créditos chegam a representar 77,2% do endividamento, contra 17,4 dos carnês, e 9,3% do crédito pessoal. Percentuais que diminuem para 72,8%, 10,3% e 14,4% , para famílias que têm renda acima de 10 salários mínimos.
Paulo Mota chama a atenção também para o fato de que o endividamento dos clientes que usam cartões de crédito, deve-se à falta de controle com os juros do cartão de crédito rotativo, que chegou a 399,1% ao ano, em julho, conforme os dados do Banco Central. Para evitar que o rotativo se transforme numa “bola de neve” para o consumidor, a regra estabelecida este ano pelo Banco Central, só é permitido o pagamento mínimo de 15% da dívida, no primeiro mês e nos meses subsequentes não há cobrança de juros sobre o parcelamento da dívida, cujo valor pode ser conseguido por outra linha de crédito com juros mais baixos.
Fonte: Jornal Tribuna da Bahia.