O final de novembro é também conhecido, por boa parte dos trabalhadores brasileiros, como o mês do alívio. É quando, além do salário habitual, cai na conta a primeira parcela do 13º. Para uns, é o momento de se livrar daquele aperto no bolso. Para outros, a oportunidade para comprar aquele item sonhado durante o ano todo. Para não cair em cilada e aumentar a dívida – em vez de diminuir, educadores financeiros ajudam a gastar com consciência o benefício.
Somente na Bahia, aliás, a previsão é que o 13º caia na conta de R$ 4,7 milhões de trabalhadores, que têm direito a recebê-lo conforme determina a Lei 4.749/1965. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a gratificação de fim de ano injetará R$ 8,57 bilhões na economia baiana.
Com o dinheiro extra na conta, é grande a tentação de sair gastando por aí. Mas, para aproveitar o 13º da melhor forma, o segredo é planejar bem o seu uso, segundo revela o contador e educador financeiro Welington Ferraz.
“A pessoa tem que fazer um diagnóstico da sua situação financeira e ver os compromissos que tem a pagar. ‘Quais meus compromissos? Devo ao banco? À operadora de cartão de crédito? Ao mercadinho de bairro?’ Ele deve sanear essa parte para voltar a respirar. A melhor coisa é se livrar da dívida”, aconselha.
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Quitados os débitos, o próximo passo é ver quais são as despesas de início de ano e separar uma parte do salário extra para pagá-las, como IPVA, IPTU, a matrícula dos filhos ou livros didáticos. Em Salvador, por exemplo, o pagamento do IPVA feito até fevereiro pode render um desconto de 10%.
A planejadora financeira Fernanda Prado recomenda que os gastos de início de ano entrem no planejamento com o 13º. “Quem tem filho tem gastos a mais, tem pagamento de matrícula escolar, material escolar que as pessoas costumam comprar no começo do ano. Se não tiver esse hábito, vale a pena reservar”, diz.
Se for possível, uma dica importante é adiantar o pagamento de prestações, como de financiamentos de carros, motos ou da casa. Mas atenção: só é vantajoso fazer isso caso o credor ofereça algum abatimento no valor da parcela.
“Se não tiver desconto, o ideal é aplicar esse dinheiro. Pode ser até numa poupança, que rende 0,3, 0,4 ou 0,5, mas aquilo vai dar uma remuneração. O pouco constante é sempre bom”, recomenda Ferraz.
De olho no futuro
Quem está de bem com as finanças pode usar a gratificação de fim de ano para aplicar em algo que lhe dê retorno ou, simplesmente, poupar. É o que vai fazer a administradora de empresas Juliana Fernandes, 32 anos, que decidiu investir o valor do 13º salário.
“Estou mobiliando um imóvel que comprei recentemente para alugar por temporada na praia de Itacimirim”, diz. Ela conta que costumava gastar o dinheiro extra do fim do ano com supérfluos, como lazer, viagens, vestuário. Mas, este ano, decidiu mudar. “Mudei de ideia com o amadurecimento e a vontade de diversificar rendimentos, não ficar somente no salário que recebo na empresa que trabalho”, revela.
O investimento em imóveis, entretanto, não é recomendado para todos os perfis de trabalhadores. O mesmo pode se dizer do investimento em ações, mais adequado para pessoas que entendam desse tipo de negócio. Para os leigos, é melhor investir em poupança ou em outro investimento simples, como Tesouro Direto.
Vale lembrar que o Tesouro Direto, embora esteja ‘em alta’ nos últimos tempos, é recomendado apenas para quem não tem urgência em retirar os rendimentos. Se a pessoa precisar do dinheiro em curto prazo, como em três ou quatro meses, o ideal é ficar com a poupança.
Merecimento
Como ninguém é de ferro, não tem problema usar o décimo terceiro para satisfazer um desejo pessoal. “O trabalhador não tendo dívidas, pode reservar a quantia para realizar sonhos que ele tenha, como a compra de um carro ou de uma televisão. Se ele trabalhou o ano inteiro, merece essa recompensa, desde que não comprometa todo o pagamento”, recomenda Welington Ferraz, acrescentando que é prudente reservar cerca de 30%.
A planejadora financeira também abre espaço para aquela recompensa pessoal. “A gente não recomenda que a pessoa viva em função de pagar dívidas. Às vezes, quero viajar com minha filha. Se estou conseguindo honrar todos os meus compromissos, esse pode ser o momento de ter mais qualidade de vida”, pondera.
Se o destino do 13º, portanto, é comprar, melhor dar prioridade ao que planejou e não sair comprando por impulso.
A servidora pública Jaqueline Santos, 36, pretende se recompensar neste fim de ano e gastar o 13º com objetos pessoais, como roupas e calçados.
“Como este ano foi mais complicado para a economia, evitei fazer grandes dívidas, então ficou tranquilo para gastar só comigo. Não faço isso durante o ano, deixo para o final”, conta.
Em outros anos, ela não teve o mesmo privilégio. “A primeira coisa que faço é pagar as dívidas e depois ver o que ficou para gastar comigo, afinal merecemos”, comenta.
A servidora pública Jaqueline Santos diz que vai comprar objetos pessoais (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) |
Falando em compras, se o bem a ser adquirido for de maior valor, como um televisor ou celular, vale a pena usar o 13º para quitar a compra à vista. Se não houver diferença no valor à vista ou a prazo, a regra é colocar o dinheiro na poupança e ir retirando mensalmente o valor das parcelas.
Comércio espera aumento de vendas de até 6%
Após os últimos ans de crise financeira no Brasil, o comércio baiano espera por um resultado positivo nas vendas de final de ano, principalmente de olho no 13º salário, que começa a ser pago na próxima quinta-feira (30). Segundo o superintendente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL Salvador), Silvio Correia, a expectativa é que o resultado das vendas seja de 5% a 6% superior ao constatado no final do ano passado.
“A gente vem numa corrente positiva. Todas as informações que a gente tem recebido dos institutos econômicos têm sido muito positivas em relação ao mercado. O crescimento da economia é uma realidade”, justifica Correia.
O pagamento do 13º salário (incluindo o de trabalhadores ativos e aposentados) vai injetar R$ 8,57 bilhões na economia baiana até o final do ano, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “Isso tem um impacto muito forte para a gente, significa quase 3,5% do PIB baiano”, comemora o superintendente da CDL em Salvador.
O ânimo dos comerciantes pode ser impulsionado, ainda, pela disposição dos brasileiros em ir às compras neste final de ano. Uma pesquisa realizada pelo SPC Brasil e CNDL concluiu que cinco em cada dez brasileiros pretendem usar o 13º salário nas compras de Natal.
Fonte: Jornal Correio da Bahia.