Adary Oliveira – VP da ACB – Doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha
A Bahia, abençoada por Todos os Santos, dá ares que está sob a proteção de mais dois deuses da mitologia grega: Éolo, deus dos ventos, e Hélio, deus do sol. No momento em que toda a humanidade reconhece que a escolha dos combustíveis fósseis para a geração de energia não foi uma boa opção, por ameaçar a vida no planeta Terra, descobre-se que a Bahia é privilegiada pela exuberância de seus ventos e longo período de insolação. De pelo menos dez fontes de energia renováveis (hidráulica, biomassa, etanol, biodiesel, biogás, geotérmica, marítima, eólica, solar, pilha combustível) eólica e solar ganham força como as mais viáveis na Bahia e no Nordeste.
A Bahia já é o segundo maior produtor nacional de energia elétrica gerada em parques eólicos, ficando atrás apenas do Rio Grande do Norte, e, dos 230 projetos previstos 186 unidades geradoras estão instaladas ou em fase de implantação em 22 municípios, todos do semiárido. Além do mais, sete empresas fabricantes de máquinas e equipamentos usados nessas instalações(Alstom, Gamesa, Torrebras, Acciona, Torres Eólicas do Nordeste (TEN), WobbenWindpower e Tecsis), principalmente torres, pás e nacelles, estão aqui presentes, garantindo a consolidação dessa nova cadeia produtiva. Quanto às usinas solares 32 projetos são espalhados por 6 municípios do interior do estado.
Muitos dos fabricantes e empresas montadoras dessas usinas geradoras foram atraídas para a Bahia devido ao alto custo da energia verificado no Brasil, o que lhes garante bom posicionamento nos leilões de energia realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, e pela fartura de vento e sol. Tudo isso na hora em que são mínimas as possibilidades de ampliação da energia de fonte hidráulica em seu território e quando a geração de energia não é suficiente para atendimento de sua demanda, carecendo de importação desse insumo de outros estados da federação.
A região Nordeste tem potencial de cerca de 53% da energia eólica que poderia ser gerada no Brasil, segundo o Atlas de Energia Eólica do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica- Cepel da Eletrobrás.As áreas de maior potencial de ventos e de maior irradiação solar estão localizadas no semiárido e não no litoral como se pensava antigamente. Segundo o professor Fernando Alcoforado, em recente palestra que proferiu para os membros e convidados da Comissão de Políticas Públicas e Relações Governamentais da Associação Comercial da Bahia – ACB, o potencial eólico da Bahia é estimado em 40 GW e os ventos da Bahia são considerados os melhores do mundo, por serem unidirecionais e constantes, características que permitem uma excelente capacidade de geração de energia eólica. Na palestra, Alcoforado, referindo-se ao potencial da geração de energia solar fotovoltaica, afirmou que caso o lago de Itaipu fosse coberto com painéis fotovoltaicos (com 8% de eficiência global de conversão e assumindo a radiação solar da região do lago), a geração seria de 183 TWh/ano, o que representaria aproximadamente 45% do total consumido pelo Brasil em 2008.
A Bahia está, sem dúvida, diante de oportunidade ímpar de utilizando recursos naturais inesgotáveis do seu combalido semiárido, de encontrar fonte de riqueza capaz de gerar empregos e aumentar o capital financeiro circulante nas comunidades do interior onde o desenvolvimento mais necessita ser disseminado. Tudo indica que dessa vez não se está diante de conversas levadas pelo vento ou pela claridade do sol, mas por ensejo que efetivamente pode ser visto a olho nu.
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