App CittaMobi, lançado em 2015, permite saber onde está o ônibus e que horas ele chegará a determinado ponto (Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO) |
Já pensou um dispositivo tecnológico que antecipe deslizamentos de encostas, permita acessar internet gratuita em praças e mostre que horas o ônibus vai passar no ponto? Parecem planos para o futuro, mas já estão no presente e em operação nas chamadas cidades inteligentes – incluindo Salvador e municípios da Região Metropolitana (RMS).
São tecnologias como estas, que ajudam o cidadão a resolver questões do dia a dia, que credenciam uma cidade como inteligente – ou Smart City, como explica Raniê Solarevisky, doutorando em Comunicação e Cultura Contemporânea na Universidade Federal da Bahia (Ufba), que pesquisa a relação entre as tecnologias digitais e o espaço da cidade.
Nos últimos três anos, Salvador avançou 14 posições no ranking Connected Smart Cities, da Consultoria Urban Systems, empresa especializada em análise de dados e levantamento de tendências em mercados. No primeiro levantamento, de 2015, Salvador ocupava a 31ª posição, saltando, em 2017, para 17ª colocação na tabela geral de capitais mais inteligentes do Brasil.
“Uma definição predominante entre pesquisadores é que a Smart City é a aplicação de tecnologia por empresas e governos dentro do espaço da cidade para melhorar a gestão da urbe e a vida das pessoas”, explica Raniê.
Saber pelo celular em que horário o ônibus vai chegar no ponto mais próximo de casa já é uma realidade cotidiana dos soteropolitanos, viabilizada pelo aplicativo CittaMobi, em operação desde 2015.
E esta possibilidade é apenas uma amostra das soluções que ajudam uma cidade a alcançar essa posição. Outras ideias foram discutidas ontem por 40 representantes de cidades do interior e da capital no I Fórum de Cidades Digitais, destinado a conhecer propostas inovadoras que são realidade em outros lugares.
Fibra ótica
De acordo com a engenheira de aplicação Christiane Suemy Okiishi Koyama, da Furukawa Electric LatAm, o grande pilar de uma cidade digital e inteligente é a fibra ótica. Quando instalada, ela permite que projetos inovadores sejam postos em prática, como a instalação de semáforos inteligentes, centros de monitoramento de trânsito e de prevenção contra catástrofes naturais – tecnologias também presentes em Salvador.
“É preciso ter uma base de dados boa para, a partir daí, fazer a convergência de todos os serviços. Com a fibra ótica, a cidade começa a conectar escolas, hospitais e órgãos públicos”, explica a engenheira, que ressalta ainda o baixo custo desta tecnologia, embora muitos municípios ainda a considerem cara.
“O acesso à fibra tem crescido muito, apesar desse paradigma. Um metro de cabo de fibra ótica chega a ser mais barato que um metro de varal”, afirma. Um ponto de acesso à dados em fibra ótica pode custar R$ 1,5 mil.
No entanto, mais do que ter tecnologia, é preciso de uma boa rede de transmisão. Hoje, Salvador conta com uma malha de fibra ótica de 250 quilômetros. Para se ter uma ideia, Recife (PE) ainda planeja instalar 140 quilômetros de fibra. “Não adianta ter tecnologia se a comunicação não é boa”, resume Cláudio Maltez, diretor técnico da Companhia de Governança Eletrônica do Salvador (Cogel).
A instalação de redes de alta velocidade em Salvador e RMS é concebida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e fruto de parceria da prefeitura municipal com o governo do estado e com instituições de ensino.
Parcerias
Em Salvador, parcerias com hospitais e universidades possibilitam ratear os custos com as redes. “Conectividade é a base da pirâmide de tecnologia e nós tentamos dar mais a todos. Através de parcerias, conseguimos alternativas viáveis para expandir as tecnologias de conexão de dados para a população carente”, diz Maltez.
Sensores instalados nos bairros de Bom Juá, São Marcos, Baixa do Fiscal e Alto do Peru alertam sobre deslizamentos (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO) |
Na caminhada para se firmar como cidade inteligente, Salvador também se uniu à Ufba e à Associação Fraunhofer para desenvolver inteligência para a Defesa Civil. Hoje, a capital conta com 100 sensores e uma estação total robotizada, instaladas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, e que monitoram as condições do tempo e alertam sobre riscos de deslizamento.
Sem papel e caneta
A redução do tempo de resposta é uma das vantagens das inovações. Uma iniciativa da Transalvador aposentou o papel e a caneta dos fiscais. Agora, o Núcleo de Operação Assistida (NOA) recebe informações de GPS, rádio e internet 4G, que permitem acompanhar o tráfego em tempo real.
O secretário municipal de Mobilidade, Fábio Mota, diz que o uso da tecnologia no transporte está avançado. Os coletivos da cidade contam commonitoramento 24h por GPS e quatro câmeras cada.
“A transmissão da câmera externa pode ajudar muito na mobilidade. O próximo passo é receber essas imagens em tempo real para poder monitorar a via e intervir imediatamente”, explica Mota. Além disso, há 88 semáforos inteligentes, cujo tempo de abertura e fechamento varia conforme a demanda.
Núcleo de Operação Assistida da Transalvador, o NOA também tem um aplicativo que liga o órgão ao cidadão (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) |
O papel também ficou de lado na hora de pedir obras. O app Ouvindo Nosso Bairro recebeu 73 mil votos de moradores e 159 obras serão feitas em dois anos.
Na rede privada também há iniciativas para facilitar a vida do consumidor. O Sensor de Falta Inteligente da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), empresa do Grupo Neoenergia, conseguiu reduzir o tempo de resposta no atendimento de quatro horas para 12 minutos. “Quando o sensor detecta, ele sinaliza imediatamente um problema de rede”, conta o gerente do Programa de P&D da Coelba, José Antonio Brito. Em Salvador, 150 sensores do tipo estão em funcionamento e 250 em outros municípios da Bahia.
Fonte: Jornal Correio da Bahia.