“Até o fim do ano chegaremos a mais 700”, afirma. “É uma metodologia muito fácil e viável para estas regiões. O dispositivo dura 20 anos, em média, e só precisa ser limpo com água e sabão.”
‘Democratizar o acesso a água potável’
Vencedora da categoria América Latina e Caribe da premiação oferecida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Beserra quer agora expandir a tecnologia para fora do Brasil.
“A gente não esperava (o prêmio), foi uma grande surpresa. Agora, sabemos que não só vamos ter o retorno financeiro para investir no projeto, como também estamos abrindo portas para expandir a tecnologia para África, Ásia e outros países da América Latina”, diz.
“A meta é democratizar o acesso a agua potável”, prossegue a criadora do Aqualuz, que é capaz de limpar até 10 litros de água em 4 horas.
Agora elevada a uma das “ideias mais inovadoras e arrojadas para solucionar os desafios ambientais mais urgentes do nosso tempo”, segundo a ONU, a solução criada pela jovem brasileira pode frear os impactos devastadores da nona principal causa de mortes em todo o mundo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, só em 2016, 1,4 milhão de pessoas morreram em decorrência de doenças diarréicas contraídas pelo consumo de água contaminada.
A ONU aponta que estas mortes estão “diretamente ligadas à falta de água potável e à falta de saneamento e de acesso à higiene” e que os problemas atingem principalmente “populações jovens, vulneráveis ou que vivem em zonas rurais remotas”.
Bolsonaro: ‘Por favor, não desestimule a ciência’
Sobre a repercussão negativa da politica ambiental brasileira no exterior, criticada por especialistas e líderes mundiais em meio ao avanço do desmatamento e das queimadas, a jovem diz ver oportunidades.
“É triste, mas ao mesmo tempo isso gera uma visibilidade para o Brasil e a gente pode aproveitá-la de forma positiva”, diz.
A reportagem pergunta o que Beserra diria ao presidente Jair Bolsonaro — que estará em Nova York quando a jovem for premiada, caso a viagem presidencial à Assembleia Geral da ONU se confirme.
“Eu diria ao presidente que, por favor, não desestimule a ciência e o empreendedorismo local. Se não houver estímulo, as pessoas vão se desmotivar.”
No início do mês, o CNPq anunciou que não pode garantir verbas para o pagamento de quase 80 mil bolsistas brasileiros a partir de setembro.
Primeira fonte de financiamento da jovem premiada pela ONU, o CNPq foi criado em 1951 para estimular pesquisas científicas no país com o pagamento de bolsas a alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, além de projetos independentes.
Os cortes no investimento em educação vêm sendo criticados há meses. Em julho, sete ex-presidentes do CNPq escreveram uma carta conjunta, apontando que a “grave condição orçamentária e financeira da agência que coloca em risco décadas de investimentos em recursos humanos e infraestrutura para pesquisa e inovação no Brasil”.
A brasileira pretende investir os US$ 15 mil (R$ 61,3 mil) que ganhará na premiação no projeto. Outros US$ 9 mil (R$ 36,7 mil) são oferecidos pela ONU para investimento em “comunicação e comercialização, além de formação, orientação e convites para participar de reuniões de alto nível da ONU”.
Em todo o mundo, mil jovens se inscreveram no prêmio — que teve, além de Anna Luisa, outros seis vencedores ao redor do mundo. No total, 158 brasileiros se inscreveram — destes, outros três ficaram entre os 35 finalistas da premiação.
Fonte: G1