Educação, ciência e tecnologia são pilares estratégicos de desenvolvimento e edificação de um país soberano, capaz de concorrer neste cenário globalizado de intensas disputas geopolíticas e econômicas. Entretanto, os indicadores no campo educacional brasileiro mostram que o Brasil permanece com um desafio mal resolvido e historicamente marcado por sucessivos fracassos, em termos de qualidade e equidade na oferta de educação.
Para exemplificar este cenário, o coordenador do Núcleo de Educação da Associação Comercial da Bahia (ACB), Ney Campello, apresenta uma recente publicação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgada em 2020, cujo foco foi o ensino profissional e tecnológico. Avaliando 40 países, entre eles o Brasil, o levantamento denominado Education at a Glance (EAG), registra um gasto público, por aluno, em nosso país, de US$ 4.661 anuais, o terceiro maior entre os países latino-americanos, e um gasto público em educação correspondente a 5.1% do PIB (dados de 2017), acima da média dos países-membros e parceiros da OCDE, onde esse esforço foi de 4,1%.
“A conclusão é óbvia e ululante! Não há correlação positiva entre o gasto público e a formação de profissionais com as habilidades técnicas especializadas que são demandadas pelo mercado de trabalho. O mesmo raciocínio se aplica aos indicadores de proficiência, aprovação, evasão e abandono na educação básica (do ensino infantil ao médio)”, analisa Campello. Outro importante indicador é o Programa Internacional de Avaliação de Aluno (PISA) 2018, o mais importante do mundo, onde o Brasil teve novamente um dos 10 piores desempenhos entre todos os avaliados em matemática e ciências, além de ter ficado estagnado em leitura.
Campello avalia que este não é um tema para respostas simplistas e superficiais, mas é evidente a necessidade de um esforço nacional para alterar os rumos da educação no Brasil. Dentro desse aspecto, o empresariado, em seu ativismo social e exercício da cidadania corporativa, tem o dever de colaborar na identificação de soluções e numa maior presença na proposição de novos modelos de oferta, capazes de elevar a qualidade do ensino no país. A ideia defendida pelo Núcleo de Educação da ACB é que, sem pretender substituir o Estado no seu papel de formulação das políticas públicas em educação e suas diretrizes nacionais, a classe empresária possa atuar para elevar a eficiência dos gastos. “Essa atuação deve ser, sobretudo, em atividades-meio que paralisam o fazer pedagógico das escolas, mais preocupadas em gerir patrimônio, limpeza e vigilância do que no fomento de energia criativa, inteligência e performance pedagógica”, analisa Campello.
O coordenador aponta a existência, mundialmente, de modelos de ensino que atestam o sucesso dessa parceria entre a escola e empresa, dentre eles o próprio “sistema S” e a reforma administrativa que se avizinha, a qual pode proporcionar mais espaços de investimentos privados na educação. “Contando que esses investimentos sejam efetivamente compensados com a formação de uma juventude vocacionada para a pesquisa, a ciência e o mercado, o resultado dessa aliança pode reposicionar o Brasil no concerto internacional das nações, como o país da sociedade do conhecimento”, vislumbra Campello.
*ACB em Foco – Publicada às quartas-feiras, a coluna cobre a atuação da Associação Comercial da Bahia na defesa do empresariado baiano