Adary Oliveira – Presidente da ACB
O Palácio da Associação Comercial da Bahia (ACB) foi inaugurado às 10 horas da manhã do dia 28 de janeiro de 1817, há 202 anos. Ele foi construído para servir de sede à mais antiga entidade de classe empresarial das Américas, fundada em 15 de julho de 1811. O Paço foi construído com pedras de cantaria, argamassa de barro, mármore e azulejos e sua estrutura repousa sobre os alicerces do Forte São Fernando, obedecendo aos traços do projeto do arquiteto português Cosme Damião da Cunha Fidié.
A ACB construiu e se responsabilizou pela conservação dos jardins da Praça Deodoro da Fonseca (antiga Praça do Ouro), Praça Conde dos Arcos e Praça Riachuelo, onde em 1874 ergueu o Monumento Riachuelo em homenagem aos heróis da Batalha Naval de Riachuelo, a mais importante das batalhas da Guerra do Paraguai. O Palácio abrigou muitos inquilinos: companhias de crédito, seguradoras, serviços de corretagem e de leilões, sendo os mais famosos O Banco do Brasil, a Empresa de Correios, o Banco Econômico, Companhia Carris Elétricos, o Consulado Alemão, a Junta Comercial da Bahia, a Federação do Comércio, a Fundação Visconde de Cairu, Abrigo do Salvador e tantos outros. Também foi desse edifício que a Bahia participou do revolucionário sistema do telegrafo que ligava as províncias do Império entre si e com a Europa, via cabo submarino e onde foi instalada a primeira Bolsa do Brasil. Quando o mar batia nas escadarias do edifício, funcionou por mais de 50 anos o Cais do Palácio da ACB, depois Doca Riachuelo, desaparecendo com os sucessivos aterros para construção do Porto do Brasil, hoje Porto de Salvador.
O Paço da ACB foi palco de memoráveis acontecimentos no seu Salão Nobre tais como reuniões de negócios empresariais, recepções, banquetes, bailes de gala, recitais, lançamento de livros, exposições de arte, reuniões técnicas, merecendo destaque os seguintes: Baile Imperial (17/11/1859) com a presença de D. Pedro II e da imperatriz Maria Cristina; recepção ao senador Ruy Barbosa (12/04/1919), então candidato à presidência da República; banquete para o senador Washington Luís Pereira de Souza (16/08/1926) presidente eleito do Brasil; recital promovido pela colônia francesa em benefício das crianças desvalidas pela Guerra Franco-Prussiana (10/02/1871) quando Antonio de Castro Alves fez sua última declamação pública recitando o poema “No meeting du Comité du Pain”, sendo delirantemente aplaudido, quatro meses antes de sua morte.
A sede da ACB abriga ainda uma exuberante Pinacoteca com telas a óleo em grandes dimensões que ornamentam as paredes do Salão Nobre. Merecem realce as seguintes: D. Marcos de Noronha e Brito, VII Conde dos Arcos, do pintor baiano Francisco da Silva Romão; Manoel Alves Branco de Caravelas, do pintor Cláudio José Barandier, 1854; João Maurício Wanderley, Barão de Cotegipe, do pintor francês E. Muller, 1853; D. Pedro II, do pintor Cláudio José Barandier, 1854; Pedro Luís Pereira de Sousa, do pintor João Francisco Lopes Rodrigues, 1882; D. João VI, do pintor português Antônio Baeta, 1907; José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu, do pintor baiano Francisco Vieira de Campos, 1908.
Na sala do Conselho Superior da ACB estão eternizados em telas menores outros personagens, sobressaindo-se: José de Sá, Manoel Lopes da Silva Lima, Bernardo Martins Catarino, Raimundo Pereira Magalhães, Otávio Mangabeira, Emil Wildeberg, Carlos Aguiar Costa Pinto, Luiz Tarquínio, Clemente Mariani, Rômulo Almeida e Alcione Dias. Na Sala da Presidência, ocupando uma parede inteira, a obra prima de Cândido Portinari, de 1952: A Chegada da Família Real à Bahia.
O Palácio da ACB, com seus 202 anos de existência, testemunha da construção da sociedade que temos hoje, inclusive assistindo a propostas progressistas como as da criação do Centro Industrial e Aratu e do Polo Petroquímico, continuará impetuoso e sempre servirá de palco a episódios lavrantes da história da Bahia e do Brasil.