O movimento começa pela manhã com o abrir das lojas e os primeiros trabalhadores e visitantes que chegam. Durante todo o dia, o sobe e desce de gente não para nos museus, igrejas, becos e ladeiras cheios de cores. Na hora do almoço, a cultura transborda à mesa, ganhando cheiros e sabores inconfundíveis. Com o cair da tarde, é a música que ecoa nas esquinas do Pelourinho e vara noite adentro. Tudo isso acontece diariamente e faz o bairro mais antigo de Salvador ser também o mais vivo.
Desde 5 de outubro, essa vitalidade ganhou fôlego renovado. A nova fase do Pelourinho Dia e Noite, projeto da Prefeitura de Salvador, ordenou as batidas que andavam descompassadas daquele que é o coração e cérebro da cidade, como já dizia o geógrafo Milton Santos na década de 1950.
Com orçamento de R$ 600 mil, este primeiro módulo vai até 31 de dezembro, reunindo 164 apresentações e cerca de 330 artistas e especialistas de áreas como música, teatro, poesia, dança, gastronomia, artesanato, fotografia, cinema e história da Bahia. “A intenção é ampliar a aderência da cidade e do que o sítio turístico representa. É a retomada de um ciclo virtuoso para o Centro Histórico”, diz Claudio Tinoco, Secretário de Cultura e Turismo do município.
Na atual gestão, o entendimento é de que é necessário ir além da programação cultural gratuita para atingir o objetivo. “É um trabalho de articulação e mobilização que envolve muito planejamento dos diversos órgãos da Prefeitura. Esse é o grande diferencial dessa nova etapa, não só pensar a cultura, mas também a estrutura física, a abordagem dos trabalhadores formais e informais”, explica o secretário.
Ainda no meio da temporada, quem frequenta o Centro Histórico já nota as mudanças. “É outra coisa chegar no Pelourinho e andar à vontade, ver que existe um projeto claro sendo traçado, que as ruas estão mais cuidadas”, diz a designer Ana Cerqueira, chamando a atenção para a troca do “gelo baiano” por plantas em algumas áreas do Pelô. “Isso faz toda a diferença, em outras épocas eu iria passar bem longe”, defende a jovem de 29 anos, que fez questão de levar parentes do interior do estado para conhecer a região.
Até quem chega pela primeira vez ao Pelourinho sente o impacto do projeto remodelado. “Eu já tinha vindo à Bahia algumas vezes, mas nunca tinha me interessado por conhecer Salvador e o Centro Histórico, pelo que ouvia. Desta vez, vim e me surpreendi com o que vi: um concerto dentro de uma igreja, uma feira de artes, a percussão nas ruas”, conta o paranaense Danilo Freitas.
Iniciativas estruturantes
A criação da Diretoria do Centro Histórico, em abril, foi um instrumento importante na conquista dos resultados que hoje chegam à população. “No primeiro momento, a meta era conhecer a fundo quais eram os problemas e as demandas dos diversos segmentos da região, por isso fizemos muitas reuniões segmentadas, criamos redes de diálogos, consultamos guias e agências de turismo. Em seguida, pensamos as propostas calendarizadas. A gente criou uma rotina cultural, que vem da repetição das atrações, que tem conceito de multilinguagens, que é outro diferencial”, destaca a diretora de Gestão do Centro Histórico, Eliana Pedroso.
Mas a ideia vai muito além do que está marcado na agenda da cidade. “O Pelourinho Dia e Noite não é um evento. Ele contém iniciativas estruturantes”, acrescenta a gestora. O grupo Meninos da Rocinha do Pelô, nascido há 14 anos na comunidade situada atrás da antiga Faculdade de Medicina, é um dos que se reestruturou por meio do projeto. Juntamente com as bandas Didá, Kizumba e Tambores e Cores, integra a República dos Tambores, circuito itinerante que se apresenta, de quarta a sábado, às 17h30, e domingo às 12h. “O Pelourinho Dia e Noite nos ajudou a reerguer o nosso grupo. Tinham vários meninos que não frequentavam tanto por conta do transporte. A gente passou a ter dia e horário definido de apresentação, com uma renda definida”, explica Elem Silva, maestrina do grupo formado por 30 meninos.
Foto do primeiro lugar da Maratona Clic (Foto: divulgação) |
Elem também foi uma das participantes da primeira edição da Maratona Clic, ação que engaja jovens de 14 a 24 anos entorno da fotografia e da história. “Foi maravilhoso, porque pude ter outro olhar sobre o meu bairro. Aprendi a história de alguns lugares que eu nem imaginava”, conta Elem, cheia de orgulho da foto cartão-postal que tirou. A Maratona Clic alcança em cheio um dos principais objetivos do Pelourinho Dia e Noite: fazer com que o público jovem soteropolitano voltasse a frequentar a região. “Boa parte das ações é de fortalecimento, para criar novos públicos”, revela Claudio Tinoco.
De domingo a domingo
O dia 31 de dezembro é apenas um marco nesta primeira etapa de retomada do Pelourinho Dia e Noite. O projeto continuará no Verão e ao longo do ano. “Vamos avaliar a programação, fazer ajustes e potencializar para a próxima estação, quando a ocupação turística da cidade fica maior. Mas o sucesso já é notável: agências estão montando roteiros de visitas se baseando nos eventos calendarizados”, destaca Tinoco.
Com tanta coisa acontecendo, é importante dar uma olhada na programação antes de explorar o Pelourinho in loco. “A gente sai andando e, se não tiver um planejamento, nem vê a hora passar. Ainda corre o risco de não ver algo importante”, diz a turista paulista Daniela Morais. A saída é ficar de olho no sitewww.pelourinhodiaenoite.com.br, que traz a programação do projeto.
De domingo a domingo, o Pelourinho recebe nove ações de diferentes linguagens artísticas. O Circuito Jorge Amado é uma das que vem dando o que falar. O espetáculo musical e teatral leva para as ruas seis cenas baseadas na obra do escritor. “É um resgate de como se fazia a arte popular. As crianças que moram no Pelourinho se envolveram de uma forma muito bonita. Dançam, cantam, acompanham”, conta o cantor e compositor Geronimo, que assina as músicas do espetáculo dirigido por Edvard passos.
Eliana Pedroso também destaca a participação do público infantil. “Eles se incorporaram em algumas cenas, sabem as músicas. Brincam com o roteiro pelas ruas do Pelourinho. Estamos criando um grupo de futuros atores. Esse é um dos aspectos saborosos das atividades culturais, que instigam e sensibilização as pessoas”, destaca a gestora.
“O Pelourinho Dia e Noite veio para dar uma aquecida na nossa economia, que estava devagar”, destaca Clarindo Silva, proprietário da Cantina da Lua. O agitador cultural e defensor do Centro Histórico também está satisfeito com o movimento trazido por outra ação do projeto, o Domingos Gastronômicos – Culinária Baiana Original com Arte, por Manuel Querino. A programação leva, quinzenalmente, cenas curtas de “dramaturgia gastronômica”, criadas por Aninha Franco, com direção de Rita Assemany, a restaurantes, bares e lanchonetes do Pelourinho. Outra ação que envolve a gastronomia tradicional baiana é Receitas Doces da Vovó, com a culinarista Elíbia Portela. O próximo encontro acontecerá dia 3, às 12h30, na Chocolates Marrom Marfim.
Viradao do Samba com o Grupo Botequim (Foto: Anderson Macedo/divulgação) |
Já o Viradão do Samba propõe a revitalização da tradicional Terça da Benção. A partir das 19h, shows gratuitos e abertos ao público acontecem em três espaços diferentes: na Praça da Sé, com o Samba de Verdade; no Largo do Pelourinho, com o Bambeia; e no Terreiro de Jesus, com o Jota Zô. Nesse dia, o ritmo toma as ruas com todos saindo em cortejo para se reunir no Terreiro de Jesus em uma grande roda de samba. No domingo acontece o Viradão do Samba Especial no Largo do São Francisco, às 15h, com o Grupo Botequim.
O Popelô – Polo de Orquestras do Pelô é outra ação que vem se destacando na programação do projeto por levar a igrejas do Centro Histórico ensaios abertos e concertos de cinco orquestras da cidade. “É uma grande oportunidade para a gente poder se reunir e se apresentar para o público, semanalmente. É uma forma de ganhar visibilidade e ganhar difusão para o mundo, já que muita gente de fora vê o nosso trabalho”, avalia o maestro Hugo Sanbone.
O Caminhos da Fé: Religião, Arte e História indica três circuitos para visitação. São eles “Da Casa da Mãe à Casa do Redentor”, a rota “Pelourinho Morada da Arte e da Fé” e “Fé e Arquitetura no Centro Histórico”. É essa região que também recebe, uma vez por mês, o Cinema na Praça. No Largo de Santo Antônio do Carmo são projetados filmes relacionados à cultura baiana, especialmente a nomes da música. O documentário Cantador de Chula será exibido nesta quinta-feira (30), às 19h (saiba mais sobre as ações no mapa gigante).
Salvador 360 – Eixo Centro Histórico
O Pelourinho Dia e Noite é apenas uma das iniciativas da Prefeitura de Salvador para revitalizar o Centro Histórico. O projeto integra o Salvador 360 – eixo Centro Histórico, que fará na região intervenções públicas estruturantes, programas de habitação, mobilidade e projetos âncoras de transformação.
Já no início de 2018, baianos e turistas vão poder visitar no Pelourinho um novo equipamento cultural fruto do Salvador 360. A Casa do Carnaval terá um acervo permanente voltado à preservação da memória e divulgação da festa, em um imóvel de quatro pavimentos restaurado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na Praça da Sé.
O equipamento vai funcionar nos moldes de outros centros culturais criados pela atual gestão, como o Memorial Casa do Rio Vermelho, em homenagem a Jorge Amado e Zélia Gattai. “Os espaços expográficos têm curadoria do cenógrafo Gringo Cardia. É um projeto com identidade própria, que mescla capacidade de uso do acervo e articulação de pessoas conhecedoras do Carnaval e tecnologia impressionantes”, ressalta Claudio Tinoco.
Com investimento inicial de R$ 200 milhões até 2020, o Salvador 360 – eixo Centro Histórico foi lançado em agosto e prevê 40 ações, em oito áreas: Incentivos, Intervenções Urbanas, Equipamentos Estruturantes, Mobilidade, Habitação, Regulamentações, Cultura e Gestão.
Também integra o Salvador 360 o programa Revitalizar, que estimula a reocupação dos imóveis abandonados da região e investimentos por meio de benefícios fiscais para a implantação, reforma e ampliação de empreendimentos.
Por meio do programa serão realizadas melhorias na infraestrutura e requalificação da Avenida Sete de Setembro, Terreiro de Jesus e Praça Cairu, além da implantação dos museus da Música e da História de Salvador, do Arquivo Público Municipal, obras que devem ser iniciadas em 2018.
Patrimônio
Na área de proteção e estímulo ao patrimônio cultural, em 2017 a Prefeitura criou o Salvador Memória Viva. Algumas das ações do projeto estão englobadas pelo Salvador 360 – eixo Centro Histórico. Uma delas é o Patrimônio É…, que promove encontros mensais para tratar do tema em diálogos com história, memória, arquitetura, espaço público, educação.
O Memória Viva foi o responsável pelo tombamento do Cristo da Barra, com reforma e espaço para missas, e da Pedra de Xangô, em Cajazeiras, além projeto #Reconectar, que coloca placas de QR Code em monumentos públicos da capital, permitindo que moradores e visitantes tenham acesso às informações por meio de uma linguagem moderna. Até o final do ano, o 25 receberão terão recebido os QR codes informativos do projeto, que continuará em 2018.
Muito mais pra se ver
Além do que tem sido fortalecido e criado pelo Pelourinho Cultural, o Centro Histórico de Salvador tem muito mais a ser visto. São mais de 20 igrejas, dezenas de museus e centros culturais, restaurantes, sorveterias, galerias e ateliês de artistas. Se você for do tipo que não aguenta ver uma novidade, o Centro Histórico é lugares para explorar em mais de um dia.
Quem trabalha no Pelô há 25 anos é testemunha da profusão de coisas que brotam no Centro Histórico, a maioria delas do encanto de soteropolitanos e turistas. “É um lugar prolífero. Com música ou sem música, com festa ou sem festa. É o maior patrimônio artístico e cultural da América Latina”, diz o artista plástico Menelaw Sete, que tem ateliê na Rua João de Deus. “Pinto durante o ano todo, faço do Pelourinho a extensão da minha casa, das 10h às 23h. O Pelourinho tem uma história e eu tenho uma história de vida lá muito grande”, conta o baiano, que costuma receber em seu ateliê turistas e soteropolitanos diariamente.
O bancário Rafael Inah é um dos que voltou a frequentar a área pela diversidade do circuito cultural e gastronômico. “Vou por causa de um restaurante vegano, dos cafés que têm belas vistas e pelo circuito cultural alternativo para bandas de rock pesado e cultura punk”. Com menos frequência, ele também vai a eventos culturais no Terreiro de Jesus. “A última vez fui ver uma apresentação da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) na igreja de São Francisco”, conta.
Vá lá
Como o Centro Histórico de Salvador fica próximo a alguns terminais de ônibus, essa é a forma mais simples de acessar a região. Praça da Sé, Barroquinha e Terminal da França (na Cidade Baixa) são conhecidos fins de linha da área que acolhem coletivos vindos de várias partes da cidade. Desembarcando nos terminais, dá para ir a pé até o sítio histórico. A Estação da Lapa, que também funciona como última parada da Linha 1 do metrô, fica a cerca de 2km do Terreiro de Jesus, trecho que pode ser percorrido a pé.
Com a integração da frota metropolitana, o acesso também é simples para quem vem das cidades que cercam a capital para a Lapa. O Elevador Lacerda e os planos inclinados Gonçalves e Pilar são outros importantes elementos na rede de transportes da região, conectando as cidades alta e baixa. Quem vai de carro encontra aproximadamente 1220 vagas de estacionamento, entre zona azul e áreas privadas.
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O movimento começa pela manhã com o abrir das lojas e os primeiros trabalhadores e visitantes que chegam. Durante todo o dia, o sobe e desce de gente não para nos museus, igrejas, becos e ladeiras cheios de cores. Na hora do almoço, a cultura transborda à mesa, ganhando cheiros e sabores inconfundíveis. Com o cair da tarde, é a música que ecoa nas esquinas do Pelourinho e vara noite adentro. Tudo isso acontece diariamente e faz o bairro mais antigo de Salvador ser também o mais vivo.
Desde 5 de outubro, essa vitalidade ganhou fôlego renovado. A nova fase do Pelourinho Dia e Noite, projeto da Prefeitura de Salvador, ordenou as batidas que andavam descompassadas daquele que é o coração e cérebro da cidade, como já dizia o geógrafo Milton Santos na década de 1950.
Com orçamento de R$ 600 mil, este primeiro módulo vai até 31 de dezembro, reunindo 164 apresentações e cerca de 330 artistas e especialistas de áreas como música, teatro, poesia, dança, gastronomia, artesanato, fotografia, cinema e história da Bahia. “A intenção é ampliar a aderência da cidade e do que o sítio turístico representa. É a retomada de um ciclo virtuoso para o Centro Histórico”, diz Claudio Tinoco, Secretário de Cultura e Turismo do município.
Na atual gestão, o entendimento é de que é necessário ir além da programação cultural gratuita para atingir o objetivo. “É um trabalho de articulação e mobilização que envolve muito planejamento dos diversos órgãos da Prefeitura. Esse é o grande diferencial dessa nova etapa, não só pensar a cultura, mas também a estrutura física, a abordagem dos trabalhadores formais e informais”, explica o secretário.
Ainda no meio da temporada, quem frequenta o Centro Histórico já nota as mudanças. “É outra coisa chegar no Pelourinho e andar à vontade, ver que existe um projeto claro sendo traçado, que as ruas estão mais cuidadas”, diz a designer Ana Cerqueira, chamando a atenção para a troca do “gelo baiano” por plantas em algumas áreas do Pelô. “Isso faz toda a diferença, em outras épocas eu iria passar bem longe”, defende a jovem de 29 anos, que fez questão de levar parentes do interior do estado para conhecer a região.
Até quem chega pela primeira vez ao Pelourinho sente o impacto do projeto remodelado. “Eu já tinha vindo à Bahia algumas vezes, mas nunca tinha me interessado por conhecer Salvador e o Centro Histórico, pelo que ouvia. Desta vez, vim e me surpreendi com o que vi: um concerto dentro de uma igreja, uma feira de artes, a percussão nas ruas”, conta o paranaense Danilo Freitas.
Iniciativas estruturantes
A criação da Diretoria do Centro Histórico, em abril, foi um instrumento importante na conquista dos resultados que hoje chegam à população. “No primeiro momento, a meta era conhecer a fundo quais eram os problemas e as demandas dos diversos segmentos da região, por isso fizemos muitas reuniões segmentadas, criamos redes de diálogos, consultamos guias e agências de turismo. Em seguida, pensamos as propostas calendarizadas. A gente criou uma rotina cultural, que vem da repetição das atrações, que tem conceito de multilinguagens, que é outro diferencial”, destaca a diretora de Gestão do Centro Histórico, Eliana Pedroso.
Mas a ideia vai muito além do que está marcado na agenda da cidade. “O Pelourinho Dia e Noite não é um evento. Ele contém iniciativas estruturantes”, acrescenta a gestora. O grupo Meninos da Rocinha do Pelô, nascido há 14 anos na comunidade situada atrás da antiga Faculdade de Medicina, é um dos que se reestruturou por meio do projeto. Juntamente com as bandas Didá, Kizumba e Tambores e Cores, integra a República dos Tambores, circuito itinerante que se apresenta, de quarta a sábado, às 17h30, e domingo às 12h. “O Pelourinho Dia e Noite nos ajudou a reerguer o nosso grupo. Tinham vários meninos que não frequentavam tanto por conta do transporte. A gente passou a ter dia e horário definido de apresentação, com uma renda definida”, explica Elem Silva, maestrina do grupo formado por 30 meninos.
Foto do primeiro lugar da Maratona Clic (Foto: divulgação) |
Elem também foi uma das participantes da primeira edição da Maratona Clic, ação que engaja jovens de 14 a 24 anos entorno da fotografia e da história. “Foi maravilhoso, porque pude ter outro olhar sobre o meu bairro. Aprendi a história de alguns lugares que eu nem imaginava”, conta Elem, cheia de orgulho da foto cartão-postal que tirou. A Maratona Clic alcança em cheio um dos principais objetivos do Pelourinho Dia e Noite: fazer com que o público jovem soteropolitano voltasse a frequentar a região. “Boa parte das ações é de fortalecimento, para criar novos públicos”, revela Claudio Tinoco.
De domingo a domingo
O dia 31 de dezembro é apenas um marco nesta primeira etapa de retomada do Pelourinho Dia e Noite. O projeto continuará no Verão e ao longo do ano. “Vamos avaliar a programação, fazer ajustes e potencializar para a próxima estação, quando a ocupação turística da cidade fica maior. Mas o sucesso já é notável: agências estão montando roteiros de visitas se baseando nos eventos calendarizados”, destaca Tinoco.
Com tanta coisa acontecendo, é importante dar uma olhada na programação antes de explorar o Pelourinho in loco. “A gente sai andando e, se não tiver um planejamento, nem vê a hora passar. Ainda corre o risco de não ver algo importante”, diz a turista paulista Daniela Morais. A saída é ficar de olho no sitewww.pelourinhodiaenoite.com.br, que traz a programação do projeto.
De domingo a domingo, o Pelourinho recebe nove ações de diferentes linguagens artísticas. O Circuito Jorge Amado é uma das que vem dando o que falar. O espetáculo musical e teatral leva para as ruas seis cenas baseadas na obra do escritor. “É um resgate de como se fazia a arte popular. As crianças que moram no Pelourinho se envolveram de uma forma muito bonita. Dançam, cantam, acompanham”, conta o cantor e compositor Geronimo, que assina as músicas do espetáculo dirigido por Edvard passos.
Eliana Pedroso também destaca a participação do público infantil. “Eles se incorporaram em algumas cenas, sabem as músicas. Brincam com o roteiro pelas ruas do Pelourinho. Estamos criando um grupo de futuros atores. Esse é um dos aspectos saborosos das atividades culturais, que instigam e sensibilização as pessoas”, destaca a gestora.
“O Pelourinho Dia e Noite veio para dar uma aquecida na nossa economia, que estava devagar”, destaca Clarindo Silva, proprietário da Cantina da Lua. O agitador cultural e defensor do Centro Histórico também está satisfeito com o movimento trazido por outra ação do projeto, o Domingos Gastronômicos – Culinária Baiana Original com Arte, por Manuel Querino. A programação leva, quinzenalmente, cenas curtas de “dramaturgia gastronômica”, criadas por Aninha Franco, com direção de Rita Assemany, a restaurantes, bares e lanchonetes do Pelourinho. Outra ação que envolve a gastronomia tradicional baiana é Receitas Doces da Vovó, com a culinarista Elíbia Portela. O próximo encontro acontecerá dia 3, às 12h30, na Chocolates Marrom Marfim.
Viradao do Samba com o Grupo Botequim (Foto: Anderson Macedo/divulgação) |
Já o Viradão do Samba propõe a revitalização da tradicional Terça da Benção. A partir das 19h, shows gratuitos e abertos ao público acontecem em três espaços diferentes: na Praça da Sé, com o Samba de Verdade; no Largo do Pelourinho, com o Bambeia; e no Terreiro de Jesus, com o Jota Zô. Nesse dia, o ritmo toma as ruas com todos saindo em cortejo para se reunir no Terreiro de Jesus em uma grande roda de samba. No domingo acontece o Viradão do Samba Especial no Largo do São Francisco, às 15h, com o Grupo Botequim.
O Popelô – Polo de Orquestras do Pelô é outra ação que vem se destacando na programação do projeto por levar a igrejas do Centro Histórico ensaios abertos e concertos de cinco orquestras da cidade. “É uma grande oportunidade para a gente poder se reunir e se apresentar para o público, semanalmente. É uma forma de ganhar visibilidade e ganhar difusão para o mundo, já que muita gente de fora vê o nosso trabalho”, avalia o maestro Hugo Sanbone.
O Caminhos da Fé: Religião, Arte e História indica três circuitos para visitação. São eles “Da Casa da Mãe à Casa do Redentor”, a rota “Pelourinho Morada da Arte e da Fé” e “Fé e Arquitetura no Centro Histórico”. É essa região que também recebe, uma vez por mês, o Cinema na Praça. No Largo de Santo Antônio do Carmo são projetados filmes relacionados à cultura baiana, especialmente a nomes da música. O documentário Cantador de Chula será exibido nesta quinta-feira (30), às 19h (saiba mais sobre as ações no mapa gigante).
Salvador 360 – Eixo Centro Histórico
O Pelourinho Dia e Noite é apenas uma das iniciativas da Prefeitura de Salvador para revitalizar o Centro Histórico. O projeto integra o Salvador 360 – eixo Centro Histórico, que fará na região intervenções públicas estruturantes, programas de habitação, mobilidade e projetos âncoras de transformação.
Já no início de 2018, baianos e turistas vão poder visitar no Pelourinho um novo equipamento cultural fruto do Salvador 360. A Casa do Carnaval terá um acervo permanente voltado à preservação da memória e divulgação da festa, em um imóvel de quatro pavimentos restaurado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na Praça da Sé.
O equipamento vai funcionar nos moldes de outros centros culturais criados pela atual gestão, como o Memorial Casa do Rio Vermelho, em homenagem a Jorge Amado e Zélia Gattai. “Os espaços expográficos têm curadoria do cenógrafo Gringo Cardia. É um projeto com identidade própria, que mescla capacidade de uso do acervo e articulação de pessoas conhecedoras do Carnaval e tecnologia impressionantes”, ressalta Claudio Tinoco.
Com investimento inicial de R$ 200 milhões até 2020, o Salvador 360 – eixo Centro Histórico foi lançado em agosto e prevê 40 ações, em oito áreas: Incentivos, Intervenções Urbanas, Equipamentos Estruturantes, Mobilidade, Habitação, Regulamentações, Cultura e Gestão.
Também integra o Salvador 360 o programa Revitalizar, que estimula a reocupação dos imóveis abandonados da região e investimentos por meio de benefícios fiscais para a implantação, reforma e ampliação de empreendimentos.
Por meio do programa serão realizadas melhorias na infraestrutura e requalificação da Avenida Sete de Setembro, Terreiro de Jesus e Praça Cairu, além da implantação dos museus da Música e da História de Salvador, do Arquivo Público Municipal, obras que devem ser iniciadas em 2018.
Patrimônio
Na área de proteção e estímulo ao patrimônio cultural, em 2017 a Prefeitura criou o Salvador Memória Viva. Algumas das ações do projeto estão englobadas pelo Salvador 360 – eixo Centro Histórico. Uma delas é o Patrimônio É…, que promove encontros mensais para tratar do tema em diálogos com história, memória, arquitetura, espaço público, educação.
O Memória Viva foi o responsável pelo tombamento do Cristo da Barra, com reforma e espaço para missas, e da Pedra de Xangô, em Cajazeiras, além projeto #Reconectar, que coloca placas de QR Code em monumentos públicos da capital, permitindo que moradores e visitantes tenham acesso às informações por meio de uma linguagem moderna. Até o final do ano, o 25 receberão terão recebido os QR codes informativos do projeto, que continuará em 2018.
Muito mais pra se ver
Além do que tem sido fortalecido e criado pelo Pelourinho Cultural, o Centro Histórico de Salvador tem muito mais a ser visto. São mais de 20 igrejas, dezenas de museus e centros culturais, restaurantes, sorveterias, galerias e ateliês de artistas. Se você for do tipo que não aguenta ver uma novidade, o Centro Histórico é lugares para explorar em mais de um dia.
Quem trabalha no Pelô há 25 anos é testemunha da profusão de coisas que brotam no Centro Histórico, a maioria delas do encanto de soteropolitanos e turistas. “É um lugar prolífero. Com música ou sem música, com festa ou sem festa. É o maior patrimônio artístico e cultural da América Latina”, diz o artista plástico Menelaw Sete, que tem ateliê na Rua João de Deus. “Pinto durante o ano todo, faço do Pelourinho a extensão da minha casa, das 10h às 23h. O Pelourinho tem uma história e eu tenho uma história de vida lá muito grande”, conta o baiano, que costuma receber em seu ateliê turistas e soteropolitanos diariamente.
O bancário Rafael Inah é um dos que voltou a frequentar a área pela diversidade do circuito cultural e gastronômico. “Vou por causa de um restaurante vegano, dos cafés que têm belas vistas e pelo circuito cultural alternativo para bandas de rock pesado e cultura punk”. Com menos frequência, ele também vai a eventos culturais no Terreiro de Jesus. “A última vez fui ver uma apresentação da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) na igreja de São Francisco”, conta.
Vá lá
Como o Centro Histórico de Salvador fica próximo a alguns terminais de ônibus, essa é a forma mais simples de acessar a região. Praça da Sé, Barroquinha e Terminal da França (na Cidade Baixa) são conhecidos fins de linha da área que acolhem coletivos vindos de várias partes da cidade. Desembarcando nos terminais, dá para ir a pé até o sítio histórico. A Estação da Lapa, que também funciona como última parada da Linha 1 do metrô, fica a cerca de 2km do Terreiro de Jesus, trecho que pode ser percorrido a pé.
Com a integração da frota metropolitana, o acesso também é simples para quem vem das cidades que cercam a capital para a Lapa. O Elevador Lacerda e os planos inclinados Gonçalves e Pilar são outros importantes elementos na rede de transportes da região, conectando as cidades alta e baixa. Quem vai de carro encontra aproximadamente 1220 vagas de estacionamento, entre zona azul e áreas privadas.
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