A produção industrial brasileira alcançou em 2017 o valor bruto de R$ 2,7 trilhões. O faturamento bruto atingiu R$ 3,9 trilhões. Desse valor, 82,5% são relativos à receita bruta da venda de produtos e serviços industriais. Os números fazem parte da Pesquisa Industrial Anual Empresa 2017 (PIA Empresa), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada nesta quinta-feira (6).
“A gente vem de um contexto de baixo crescimento no país. Os principais resultados da pesquisa mostram leve recuperação no setor industrial entre 2016 e 2017. Em termos de faturamento das empresas, comparando 2016 com 2017, aumentou em 1,8%. Na verdade, houve um contexto geral de crescimento na economia em 2017. Não foi um crescimento tão grande, mas como em 2015 e 2016 foram anos muito ruins, aí a base de comparação é muito baixa”, revelou a gerente da pesquisa, Synthia Santana, em entrevista à Agência Brasil.
A PIA Empresa, que é elaborada pelo IBGE desde 1996, mostra as características estruturais do segmento empresarial da atividade industrial no Brasil, incluindo as extrativas e as de transformação. Para o IBGE, esse tipo de informação permite a avaliação e o planejamento econômico das empresas do setor privado e ainda contribui para a formulação de políticas públicas em todos os níveis de governo.
Segundo a pesquisadora, em caso de reativação da economia brasileira a indústria tem potencial de apresentar uma recuperação mais rápida. Ela ponderou que o desempenho da economia nos anos de 2015 e 2016 foi muito ruim, a capacidade instalada da indústria estava bastante ociosa, então, é mais fácil apresentar sinais de recuperação, dado os investimentos que já tinham ocorrido.
“A indústria é o carro-chefe da economia. Ela tem um peso muito grande e, por isso, o crescimento geral do país carrega também o resultado da indústria”, afirmou.
Conforme a pesquisa, em comparação a 2008, a indústria brasileira perdeu em torno de 145,8 mil empregos em 2017. Grande parte desse total ocorreu na indústria de transformação, com queda de 2,4% do pessoal ocupado no período. Já nas indústrias extrativas houve alta de 22,1%.
“A gente perdeu um número considerável de vagas de emprego, mas isso pode indicar decisões estratégicas das empresas diante de cenários tão ruins e de não contratar”, disse.
Para Synthia Santana, o número de 145,8 mil empregos na comparação entre 2008 e 2017 é significativo, mas é preciso também analisar o que ocorreu nesse período de dez anos. “É bastante volátil quando se olha toda a série. Enquanto na comparação de 2008 com 2017 a gente perdeu 145 mil vagas, entre 2015 e 2016 esse número foi maior. Então, na verdade, depende da base de comparação que está sendo feita”.
Entre 2015 e 2014 a perda ficou em 652.133 vagas. No período 2016-2015 foram perdidos 407.445 postos. Na recuperação de vagas mostrada na pesquisa de 2017, a indústria extrativa foi a que teve melhor resultado. Synthia informou que duas atividades puxaram os números da indústria extrativa. “A primeira é o setor de extração de petróleo e gás natural, que aumentou muito a ocupação nos últimos anos. Em segundo lugar, vêm as atividades de extração de minerais metálicos, mas sobretudo a extração de petróleo e gás natural, que aumentou em quase cinco vezes o volume de pessoas ocupadas nesse período”.
De acordo com a pesquisadora, em toda a indústria a que mais emprega é a alimentícia, que é também a de maior valor de transformação industrial. A PIA Empresa 2017 mostra que a atividade industrial como um todo gerou R$ 1,2 trilhão de valor da transformação industrial, resultado da diferença entre o valor bruto de produção industrial (R$ 2,7 trilhões) e os custos das operações industriais (R$ 1,5 trilhão). Nesse caso, a indústria de transformação contribuiu com 91,3% desse montante. Na indústria extrativa, a que concentra mão de obra é a de minerais metálicos.
O salário médio nas indústrias extrativas ficou na faixa de 4,7 salários mínimos, enquanto na de transformação bateu em 3,2 salários. As informações sobre o nível de salários na comparação 2008-2017, conforme a pesquisadora, estão bem coladas nos dados de pessoal ocupado. “Entre 2016 e 2017, enquanto a receita de vendas do faturamento cresceu 1,8%, a variação real de salário foi nula. Se manteve estável nesse período. Isso pode ter sido por decisões estratégicas associadas a determinadas atividades na recomposição salarial dos seus funcionários”, acrescentou Synthia.
Na pesquisa foram avaliadas as informações de 318,3 mil empresas ativas em 2017, que ocuparam 7,7 milhões de pessoas, com pagamento de R$ 300,4 bilhões em salários. O trabalho é feito em duas partes. Uma se refere a empresas com uma ou mais pessoas ocupadas, na qual o foco do estudo é faturamento, emprego e concentração industrial. Na outra são analisadas as unidades locais produtivas industriais das empresas com cinco ou mais pessoas ocupadas.
A gerente informou porque é preciso fazer a distinção de tamanhos das empresas: “Quando a gente investiga as unidades locais, consegue ir a uma unidade menor da empresa que está espalhada no território, por exemplo, quando se analisa uma unidade que cuja sede está no Rio de Janeiro, mas tem filiais ou estabelecimentos em outras cidades, quando está usando informações da empresa, pode-se deixar de contabilizar parte das informações onde estão sendo produzidas”, explicou.
Para pesquisadora, o total de empresas analisadas é um número significativo do universo do setor industrial no Brasil. “Reproduz a demografia das empresas, cuja maior parte da receita é desenvolvida em atividades industriais”, completou
Nos movimentos regionais, entre 2008 e 2017 os resultados mostram que das 27 unidades da Federação, em 16 delas as atividades de produção alimentícia aparecem em primeiro lugar no ranking. A pesquisadora destacou o incremento da indústria de papel e celulose no Centro-Oeste, que não era a mais importante em 2008, e em 2017 está à frente. “No Centro-Oeste há o deslocamento de plantas agroindustriais para a produção de biocombustíveis e também a consolidação da indústria de papel e celulose. O destaque aí é o estado de Mato Grosso do Sul”.
No Nordeste também houve crescimento da indústria de papel e celulose, em especial no Maranhão e em Pernambuco, derivados de petróleo e fabricação de veículos automotores. A indústria é muito baseada em vocações regionais. Essas atividades estão enraizadas e essas movimentações estão ancoradas em investimentos”, disse, acrescentando que os governos estaduais realizaram programas de incentivos para a instalação de projetos industriais.
Na Região Sul, Santa Catarina teve destaque com a indústria têxtil. O Sudeste, apesar de ter perdido a representatividade ao longo dos últimos dez anos, foi responsável por 58,0% do valor de transformação industrial em 20’17, mantendo-se na liderança do ranking da produção industrial brasileira.
Fonte: Agência Brasil