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Rosemma Maluf: mulher de negócios, mãe e ‘feminista contemporânea de carteirinha’

  • 21 de julho de 2017 - 16:06

Presidente do Conselho da Mulher Empresária e Diretora da ACB Rosemma Maluf e Iga Bastianelli

Com empreendedorismo correndo nas veias, Rosemma Maluf possui uma trajetória profissional conciliada à vida familiar que serve de inspiração para as mulheres que não abrem mão dos diferentes papéis que estejam dispostas a desempenhar. Sua visão para os negócios a levou a investir nas próprias ideias e colecionar sucessos. Não à toa, portanto, é a atual presidente do Conselho da Mulher Empresária da Bahia e vice-presidente do Conselho Nacional da Mulher Empresária da Confederação das Associações Comerciais do Brasil – (representando o Nordeste) e, com orgulho, denomina-se “feminista contemporânea de carteirinha”.

Para abrirmos a entrevista, fale um pouco sobre sua trajetória profissional 

Sou graduada em Administração de Empresas e pós-graduada em Marketing, ambas as formações pela Universidade Salvador (Unifacs). Sou empresária e empreendedora desde que me conheço. Desde pequena sempre acompanhei meu pai em suas atividades empresariais, o qual teve papel decisivo na minha formação e escolha da profissão. Comecei trabalhando nos negócios da família, em 1988 abri uma pequena indústria de confecções motivada pelo espírito empreendedor e em 1997, com meu pai e minha irmã, inauguramos o Bahia Outlet Center, localizado na Península de Itapagipe, bairro do Uruguai, aproveitando os galpões das fábricas de chocolates Chadler que tinha sido transferida para os EUA. A Península de Itapagipe foi o primeiro polo industrial do Estado da Bahia, que teve  início na década de 40, chegando a ter mais 100 indústrias de diversos segmentos.

Entre os desafios profissionais, qual deles foi o mais marcante para você?

Entre tantos destaco três desafios: a implantação do Outlet Center na Rua do Uruguai, inaugurado em 1997, um modelo inovador de shopping para época. Já em 1999 participei da concepção do primeiro projeto de Arranjo Produtivo Local do Estado da Bahia (APL de Confecções da Rua do Uruguai) com foco na indústria do vestuário, projeto de Responsabilidade Social Empresarial do Outlet Center, em parceria com o Governo do Estado, SEBRAE e Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), o qual se tornou política pública, posteriormente sendo coordenado pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (Secti). E o terceiro desafio foi minha primeira experiência em gestão pública, quando convidada para compor a equipe do prefeito ACM Neto, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretária da Ordem Pública; foram quatro anos de 2013 a 2016, que me proporcionaram uma experiência profissional multidisciplinar.

Você também não abre mão desta vertente da Responsabilidade Social, recentemente foi a idealizadora das Amigas de Dulce de mãos dadas com Maria Rita, superintendente da Osid, para a criação de uma rede de solidariedade entre as mulheres. Fale um pouco deste novo projeto.

Gosto de dizer que “sempre tenho 5 minutinhos do meu dia para doar para o trabalho voluntário”. É uma característica da minha personalidade, faz parte da minha formação e natureza, característica esta que se fortaleceu quando comecei a conhecer o entorno do Outlet Center, região marcada pela pobreza e que surgiu de um processo de invasões de terrenos alagadiços, dando origem às Palafitas dos Alagados. Qualquer pessoa, com o mínimo de sensibilidade, se sente desconfortável com os contrastes sociais com que convivemos. A aproximação com as Obras Sociais de Irmã Dulce (Osid) foi um processo natural, além de nutrir profunda admiração e respeito pelo trabalho desenvolvido, me tornei sua devota, pois vejo o seu milagre acontecer todos os dias, recebendo com amor o povo mais carente para o qual todas as portas já se fecharam. Compartilho da amizade de Maria Rita e da sua equipe composta de excelentes colaboradores e, percebendo a necessidade de aproximar a comunidade das Obras, fui inspirada a criar a Rede Amigas de Dulce, formada por mulheres voluntárias com a missão de divulgar, mobilizar e captar recursos para garantir a continuidade do legado de Amor de Irmã Dulce perpetuando, através das gerações, o atendimento aos mais necessitados.

E gestão de negócios sempre foi uma paixão?

Está no sangue e é a minha vocação. Gosto do mundo dos negócios e do que chamo de ação política empresarial, ou seja, atuar em defesa dos interesses da classe empresarial. Sempre fui membro ativa de diversas entidades empresariais, o que só veio a fortalecer o meu espírito associativista. Os conhecimentos adquiridos e a convivência com líderes empresariais de diversos segmentos serviram para pavimentar o caminho que venho trilhando.

O Conselho da Mulher empresária é um tanto inovador. Qual o papel do órgão?

O Conselho Estadual é ligado ao Conselho Nacional da Mulher Empresária, criado pela Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB). O objetivo é estimular uma maior participação das mulheres nas entidades, já que atualmente ocupamos um grande espaço no mundo dos negócios e temos papel fundamental e decisivo na condução de uma nova ordem política e econômica. Atualmente, 43% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. Nas universidades, já somos maioria. Porém, temos baixa representatividade na esfera empresarial e política, tanto no Legislativo, quanto no Executivo. Precisamos incentivar ainda mais as mulheres a serem ativas e terem maior protagonismo no que diz respeito à participação na sociedade.

Como está a Bahia em relação aos demais Conselhos Estaduais?

Os conselhos da região Sul do país são os mais fortes, pois o machismo é menor e a cultura do associativismo é mais consolidada. A colonização alemã e italiana tiveram papel fundamental nisso, o que não aconteceu no Nordeste. Mas, de uma forma geral, precisamos aumentar o número de empresárias associadas às entidades e de conselhos em todo o território nacional. Juntas somos mais fortes.

A Educação seria o caminho para mudar o cenário de desigualdade de gêneros no mundo empresarial?

A Educação é a grande porta de entrada para a mulher conquistar seu protagonismo na sociedade. Mulheres educadas são mais felizes, desenvolvem senso crítico, adquirem maneiras de exercer seus direitos e podem oferecer para todo o mundo o seu conhecimento e os benefícios de suas capacidades. Como diz Francis Bacon: “Conhecimento é poder”. Educação é a ferramenta para a conquista da independência, inclusive financeira. Desta forma, é possível reverter a mentalidade machista que nos acompanha historicamente e é tão presente no ambiente doméstico. Educação, independência financeira e políticas públicas formam o tripé para mulher avançar na conquista de direitos e de espaços de poder na sociedade. A mudança é processual e começa dentro de casa, a partir de uma educação igualitária.

Em sua opinião, como o empresariado local pode colaborar para estas mudanças?

Gestores e líderes empresariais precisam adotar o sistema meritocrático e se livrar da ideia que um bom líder precisa ser necessariamente um homem; precisam desenvolver políticas internas de equidade. A maternidade ainda é uma barreira que dificulta a ascensão profissional das mulheres por diversos motivos, mas estamos sabendo lidar com isto e muitos líderes já estão com uma nova percepção sobre o tema. Pesquisas tendem a confirmar que as mulheres ocupam, aproximadamente, 21% dos cargos de chefia. Quanto mais alto o cargo, menor a participação de mulheres. Precisamos, de fato, combater o sexismo por meio de políticas de igualdade de gênero. A diversidade deve ser encarada como estratégia competitiva dentro das empresas.

É devido a esta busca de igualdade que você denomina-se “feminista de carteirinha”?

Sou assumidamente feminista e, apesar do preconceito que hoje ronda o tema, sigo firme com minhas convicções sobre o que denomino feminismo do século XXI.  Ser feminista é lutar pelo direito de escolha das mulheres. É lutar pela oportunidade da mulher ter o poder de escolher o que ela quer ser e como quer viver. Não passa, obrigatoriamente, por ser uma profissional exitosa. A mulher pode escolher ser uma dona de casa e cuidar, exclusivamente, da família, mas foi uma escolha dela e não uma falta de opção. Significa que, mesmo sendo mulher e querendo conquistar espaços antes exclusivos dos homens, não quero abrir mão dos anseios naturais de quase todas as mulheres, a exemplo de casar, ter filhos, cuidar da família, gostar de moda e maquiagem (risos…).  Também não quero provar que sou igual ao homem, porque não somos. Aliás, acredito que é nas diferenças que nos complementamos. A feminista contemporânea não entra em disputa ou tenta imitar as características masculinas, pelo contrário, constrói parcerias sólidas. Mas, em alguns momentos na vida das instituições ainda existem situações que melindram a convivência entre os gêneros, mas nada que com o tempo não se harmonize. Afinal, para os homens também não é tarefa fácil conviver com mulheres “empoderadas”. É dever de todos darem as mãos para o avanço conjunto de uma sociedade mais justa, independente da raça, da cor, do sexo ou da religião.

E como é Rosemma mãe? Como influencia a família com seus ideais?

Sou igual a todas as mães e passo pelos mesmos problemas. O grande dilema é conciliar os afazeres domésticos com a vida profissional que nos exige, também, muita dedicação. Às vezes precisamos recuar um pouco, para depois avançar. Na família não imponho minhas crenças, busco estimular a reflexão para que minhas filhas encontrem seu caminho e descubram o que as fará felizes. Mas, confesso, que sofro um pouco de pressão, pois não sou perfeita e nem sempre consigo harmonizar situações conflitantes. Tenho também um grande parceiro, meu marido Carlos, que me apoia e divide comigo as responsabilidades familiares. Este é um diferencial positivo para mulheres, como eu, que gostam do mundo público.

Você foi secretária municipal da Ordem Pública de 2013 a 2016. Qual sua opinião sobre a participação da Mulher na política? Segundo Relatório do Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento em 2016, os dados revelam que o Brasil ocupa a posição 121º no ranking de participação das mulheres na política, pouco mais de 10% dos assentos no Congresso Nacional, apenas 10% das prefeituras e somente 12% dos conselhos municipais. Qual sua opinião sobre estes dados?

Foi uma experiência fantástica e me sinto honrada em ter participado da equipe do prefeito ACM Neto, o qual resgatou a autoestima do soteropolitano com uma gestão moderna, dinâmica e realizadora de grandes obras. Sobre a participação feminina na politica, as mulheres representam menos de 11% no parlamento, seja no Executivo ou no Legislativo. A política de cota de gênero de 30% exigida pela legislação eleitoral é uma farsa, pois não existe um repasse proporcional das verbas de fundo partidário – não existe apoio real que ofereça condições para mulheres competirem em condições de igualdade com os homens.  Não há nada que incentive mais a participação feminina do que financiar a campanha de mulheres, para promover a igualdade entre os candidatos. Muito ainda precisa ser feito, é um debate que merece ser levado a sério.

Como o Conselho da Mulher Empresária pode contribuir para apoiar as mulheres com pretensões políticas?

Estamos trabalhando para promover a conscientização político-empresarial da mulher empresária em seu contexto mais amplo, destacando e incentivando a importância da sua participação ativa nas mudanças que ocorrem no país por meio de palestras e seminários. Portanto, convidamos as mulheres a participarem dos eventos do conselho que acontece sempre na Associação Comercial da Bahia.

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