J.G. CARVALHO SÁ
Agradecimento
Dus adipici cumquos alique renimi, culliquae suntius as qui coresse ntissi dolor sitia velique imus nos modissiti rem cus re denienet odit, sit vellabo. Itaerorest alit optas eserum deliti cuscilibus, te sae.
Lorerum el mos molo
INTRODUÇÃO
Dividimos em duas partes este trabalho que chamaremos de “APONTAMENTO SOBRE A CASA DA TORRE”,
no qual focalizamos fatos e personagens com os quais nos familiarizamos, através da leitura do que publicaram estudiosos do assunto.
A primeira parte vincula-se mais diretamente ao gens que desfilaram pelos seus cenários, levantando-lhes, inclusive, a árvore genealógica.
Traçamos de modo sucinto uma simples indicação de pessoas, e eventos ali desenrolados, com o intuito de facilitar uma maior Indagação por parte daqueles que se interessam pela historia da Casa da Torre e da Bahia Colonial.
J.G Carvalho Sá
O CASTELO
Não surgiu o castelo por a caso ou mera fantasia do velho Ávila. Cumpriu ele simplesmente o que determinava as instruções contidas no regimento de 17 de fevereiro de 1548, entregue por D. João III de Portugal a Tomé de Souza, ao enviá-lo em 1549 para o Brasil.
No documento em questão, recomenda-se que as povoações das capitanias fossem cercadas e providas de todo material necessário à sua defesa. Mais ainda: – “que as pessoas a quem foram dadas e daqui em diante se derem águas e terras de sesmarias para se fazerem engenhos os façam no tempo que lhes limitar o Capitão que lhes der e nos assentos das ditas povoações dos ditos engenhos se façam torres ou casa fortes”.
Como assinala Wanderley Pinho, “essas casa fortes não eram castelos. Uma casa de melhor construção, uma cerca alta, quando muito um fosso. Desejo da aparente nobreza teria por acaso levando Garcia d’Ávila a levantar a Torre. Em chamarem sua residência de Torre, ficou a convicção que era Castelo”.
De qualquer sorte, pode-se asseverar que a menos parte de sua construção, cujas ruínas hoje são contempladas, foi iniciada pelo primeiro Ávila entre 1551 e 1553, havendo, no entanto, colaborado nas obras respectivas outros membros da família que lhe sucederam, destacadamente, Francisco Dias d’Ávila I e Catarina Fogaça.
Em 1584 sua parte principal já estava terminada. É o que se pode inferir, com base numa descrição de Gabriel Soares, segundo a qual já naquele tempo ostentava a senhorial vivenda as suas linhas definitivas.
Convém salientar, porém, que a Torre propriamente dita, aquela a que seu testamento se refere Garcia d’Ávila I, teve, como já asseverado, a sua edificação iniciada entre 1151 e 1553. Oferecia três utilidades: casa de residência, casa forte, e posto de vigilância.
Historiadores há que informam ter sido essa Torre batizada de “Torre de São Pedro de Rates”, em homenagem à vila portuguesa onde nascera Tomé de Souza, havendo por muitos anos nela residido Garcia d’Ávila, em companhia de seu protetor.
Outros acreditam que essa denominação fora dada pelo almoxarife dos armazéns reais a uma curta propriedade, que anteriormente fundara, nas proximidades do local onde se acha o Forte de São Pedro, na Rua Visconde de São Lourenço, na capital baiana.
Os fatos que tiveram por cenário o Castelo da Torre chegam, na sua maioria, aos nossos dias, envoltos nas dobras da lenda; mas, a acredita-se no que os mais velhos ouviram dos mais velhos (e isto é o que se chama tradição), teve aquele os seus labirintos e subterrâneos, com as suas ramificações. A uma delas chamava “Gruta das Corujas”. Havendo também a Gruta da Onça, onde os senhores da Torre tinham presos alguns felinos, para usarem na própria defesa.
Conta-nos Borges de Barros que numa de suas visitas às ruínas do Castelo, esteve na Praia do Forte, onde conversou com um senhor ali residente havia uns quarenta anos. Note-se que há umas quatros décadas escrevia ele sobre o episódio.
Ter-lhe ia informado o mesmo senhor que até o ano de 1872 dois pretos africanos tomaram conta do Castelo, até então bem conservados, e já sob o domínio da família Argolo; Acrescentando que, com a queda das paredes, ficara incompleto o seu frontal.
Quanto ao forte, àquela época não mais existia. Em 1702, quando na Espanha se anuncia insistentemente o advento de uma próxima guerra, Garcia d’Ávila Pereira teve a ordem de reconstruí-lo o que teria feito, às sua expensas, para atender à solicitação que lhe fizera D. Rodrigo da Costa, em carta de 05 de julho.
Na parte norte do prédio se erguia um torreão onde se acendiam almenaras ou sinais de fogo, avistados de Itapoã, sendo retransmitidos ao Rio Vermelho e deste para a Capital,
avisando a aproximação de inimigos vindo por terra, dos lados de Sergipe, ou de esquadras que por ventura singrassem em procura da barra.
Embora já tenha sido negado por certo historiador, a verdade é que nas guerras sustentadas contra o invasor batavo e a favor da Independência, papel bem saliente coube à Casa da Torre, pondo em ação o seu sistema de sinalização e mais do que isto: dando uma inestimável contribuição em viveres, combatentes e informações, que muito ajudaram os que lutavam pelo triunfo daquelas boas causas.
De tudo isto, contudo, pouco resta daquele passado pontilhado de glórias e feitos assinalados. Do castelo ficou apenas a capela da Conceição, reconstruída em pleno respeito às suas linhas primitivas, mantendo-se em satisfatório estado de conservação. Nela foi sepultada Ana Pereira, mulher do primeiro Francisco de Ávila, filha de Manuel Pereira Gago e Catarina Fogaça.
Borges de Barros noticia que existe na Alemanha uma planta do Castelo, com uma descrição do mesmo. Anos atrás, teria sido anunciada a sua venda num leilão, entre uma coleção de livros raros. Por lá se ficou. Por que não envida meios para adquiri-la o Patrimônio Histórico? Deixamos aqui a sugestão.
Há alguns anos passados, ainda eram vistos junto ao porto de Tatuapara dois velhos canhões. Um outro jazia próximo às ruínas da casa grande. Talvez valesse a pena fazer-se uma pesquisa para precisa-lhes a data ou época de fabricação.
Sic transit… Assim passaram as glorias do mundo…
Tendo vivido momentos de esplendor e fausto, encontra- se atualmente o Castelo quase reduzido a um montão de pedras desmoronadas, testemunhas doridas e silenciosas de um passado de lutas e glórias. Ignorado pela maioria dos brasileiros. E, apesar de tombado no Patrimônio Histórico, pelo próprio poder público, que nenhum emprenho tem feito para enviar-lhe a derrocada total. Em outros países, transportam- se, desmontados pedra por pedra, para serem reconstruídos, castelo que vão ostentar em terras estranhas e distantes a sua beleza histórica e arquitetônica.
Aqui, se deixa entregue à implacável devastação do tempo e dos elementos o velho castelo de Tatuapara, única construção no gênero, da América do Sul.
Ao chegar Tomé de Souza à Bahia em 1549, trouxe consigo, para exercer o cargo de almoxarife dos armazéns reais, Garcia d’Ávila ou da Vila, como chamava alguns.
Estabeleceu-se este, principalmente, com um curral de vacas na ponta de Itapagipe, o qual lhe pertenceu até 1587, quando fez doação do mesmo Mosteiro de São Bento. Lançou mão dos serviços de índios manos e de escravos que adquiriu, para movimentar esse empreendimento pioneiro, que se tornaria, como acentuo um historiador pátrio, o inicio do “ciclo do gado” ou do couro, ou ainda do pastoreio, como o domínio Costa Porto, para fazer lembrar que a civilização do nordeste brasileiro foi obra simultânea da cana de açúcar e da pecuária. Quanto a esta última, pode-se afirmar que teve na pessoa do valido de Tomé de Souza o seu iniciador, com o gado vindo de cabo verde, e posteriormente disseminado pelos ínvios sertões do Brasil.
Como se sabe, Garcia d’Ávila possuía mais de 260 léguas ao longo do Rio São Francisco. Nas mesmas foi levantado os seus currais e com estes conquistado a terra.
Na segunda metade do século XVI, já então com a fama a aureolar-lhe o nome, obteve o fidalgo português uma sesmaria de duas léguas de extensão ao longo da costa.
Passavam aos seus domínios os campos de Itapoã, nos quais estava localizada a colina de Tatuapara, tendo em frente o porto do mesmo nome. Alí, ao pé da colina, mandou levantar uma cerca de pau a pique, visando à defesa do seu estabelecimento contra as arremetidas da indiada e dos inimigos externos.
A rebelião nativa, aliás, não se fez esperar. Em 1.555 revoltam- se os silvícolas, atacando a sede dos domínios de Garcia d’Ávila. Tão logo explodiu a noticia na capital, foi enviado em socorro do nobre senhor uma expedição sob o comando do próprio filho do então Governador Geral, na qual Garcia d’Ávila servia como alferes.
Implacável foi o bombardeio contra os insurretos, partindo da artilharia da nau “Esperança” fundeada na enseada de Tatuapara, a fim de auxiliar os que marchavam por terra. Foi uma peleja em que muito sangue, principalmente nativo, se derramou. Mas de então em diante, estava consolidado o prestigio e domínio do primeiro Ávila na região. Achava-se agora, aquele, senhor absoluto da situação, tendo a sua influencia e dominação se dilatado pelos campos de Jacuípe e Pojuca.
Foram estes, segundo ilustre historiador, “os pródromos do poderio e grandeza da Casa da Torre de Garcia d’Ávila, famosíssima nos anais da historia colonial”.
Fôra Garcia d’Ávila casado com uma índia batizada, Francisca Rodrigues, de quem teve em 1.553 uma filha, Isabel d’Ávila que teve como primeiro marido Gil Vicente de Vasconcelos, morto em combate pelos Tupinambás. (Casou-se depois com Diogo Dias, descendente próximo de Caramuru).
Morta a primeira mulher, uniu-se pelos laços de novo casamento com Mecia Rodrigues, cristã nova, filha da judia Branca Lopes. Ao que se diz Mecia Rodrigues entregava-se à prática de “bruxaria”, rivalizando em tais costumes com sua mãe. Tanto que, de certa feita, fora denunciada ao Tribunal do Santo Oficio, pela própria Isabel d’Ávila, sua enteada.
Com Catarina Rodrigues, que morava em sua casa, teve também um filho, a quem muito estimava, conhecido por João da Vila e morto ainda jovem, em combate, na Capitanias de Sergipe, sem deixar filhos.
De Isabel d’Ávila e Diogo Dias, nasceram três filhos. Um deles era Francisco Dias d’Ávila I, casado em 1621 com Ana Pereira, filha de Manuel Pereira Gago e Catarina Fogaça.
Ao falecer, em 1650, Francisco Dias d’Ávila I, deixou um filho, Garcia d’Ávila II, fidalgo como seu pai. Casando-se este em data de 8 de junho de 1649 com uma tia, irmã de sua mãe, Leonor Pereira, nasceram-lhe do consórcio três filhos: Francisco Dias d’Ávila II, o bandeirante, Bernardo Pereira Gago e Catarina Fogaça.
Esta, terceira neta de Garcia d’Ávila I, e em quarto grau de Catarina Paraguaçu, casou-se em junho de 1654 com Vasco Marinho Falcão, de cujo consórcio nasceram duas filha, Leonor e Isabel.
Viviam as duas irmãs a solidão e isoladamente da casa solarenga, interrompidos vez por outra pelos visitantes que apareciam ou pela algazarra dos vaqueiros, lida com as boiadas, nas pastagens de Tatuapara.
Mas, um dia ali surgiu o licenciado Manuel Pais da Costa, vindo da capital para visitar um seu tio, que em Tatuapara exercia a profissão de ferreiro, a serviços dos senhores da Torre. Embora de família modesta de jacobina mas de boa reputação, tornou-se pessoa ligada ao cel. Francisco Dias d’Ávila, cuja casa frequentava constantemente.
Não tardou que se apaixonasse por Isabel o moço forasteiro, ficando sem demora preso aos seus encantos e fascínios. E, o pior para a velha Fogaça, era por ela correspondido nos seus sentimentos. Não demorou, violenta, a repulsa de Catarina Fogaça e do próprio Dias d’Ávila uma possível união dos dois namorados. A fidalguia estulta e presunçosa não poderia entender que o coração não conhece fronteiras nem preconceitos sociais.
Vendo frustrados os seus planos de casamento, Isabel e Pais da
Costa resolveram tomar uma decisão extrema. E foi assim que, no dia 2 do mês de janeiro de 1678, deixou-se Isabel raptar pelo sobrinho do ferreiro, indo ter com ele à residência de Manoel Barros da França, de alto prestígio na Colônia, Capitão de Cavalaria e Coronel de Pedestres. Transcorridas algumas horas, rumavam para a cidade, com acompanhamento de gente de destaque da sociedade local.
Em Salvador, hospedou-se o noivo no Convento do Carmo, ficando Isabel na casa do Sargento – Mor Francisco de Brá. Dez dias depois, ou seja, em 12 de janeiro, casavam-se na igreja do Carmo. Por Uma ironia do destino, 26 anos depois, no dia 24 de janeiro de 1704, era Isabel sepultada na mesma igreja…
Leonor, a irmã que lhe sobreviveu, solitária e triste, continuou vagando por algum tempo pelos espaçosos salões da Casa da Torre, casando-se depois, pelos idos de 1678, com o tio Francisco Dias d’Ávila. Vem aí, segundo já se afirmou “a descendência do Ávila até nossos dias, por via dos V Sa quesanes, dos Cavalcanti de Albuquerque e dos Pires de Carvalho, numa sucessão de nomes respeitáveis por serviços grandes à Pátria”.
De Francisca Dias d’Ávila e Leonor, nasceu um filho varão, que recebeu o nome de Garcia d’Ávila III. Este, visando à manutenção do Morgadio casou – se com uma prima de 14 anos de idade, Inácia de Araujo, nascendo do casal um filho, Francisco Dias d’Ávila III, que não seguiu a tradição heroica de seus antecessores, de desbravadores dos sertões. Preferia viver indolentemente nos salões reluzentes da Capital.
Casado em 1732 com D. Catarina Correia de Aragão e Vasques Ares, faleceu em 1734, ao que se afirmou na época envenenado pela própria mulher. Deixou, dessa infortunada união dois filhos – Garcia d’Ávila IV e Leonor Pereira Marinho. Catarina, depois dos vexames que lhe causaram as acusações em torno da morte do esposo, contraiu núpcias com Pedro de Albuquerque Brito Câmara.
Com o quarto Garcia d’Ávila, duas vezes casado e sem filhos, teria sido sepultado o derradeiro representante da “dinastia” dos Ávilas. Mas sua irmã, Leonor Pereira Marinho, tornando- se esposa do Mestre de Campo José Pires de Carvalho e Albuquerque, transferiu desse modo a lendária Casa da Torre para a ilustre família dos Pires de Carvalho e Albuquerque. Passou, então, o Morgado para D. Ana Maria Pires de São José e Aragão, filha de José Pires de Carvalho e Albuquerque e Leonor Pereira Marinho, irmã de Garcia d’Ávila Pereira.
Ana casou-se com o Capitão-Mor de Maragogipe e Secretários do Governo José Pires de Carvalho e Albuquerque. Por morte deste, passou o Morgado a seu filho, Coronel Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, Barão e depois Visconde da Torre de Garcia d’Ávila.
Com o desaparecimento dos Viscondes da Torre, foi ter o Castelo às mãos de seu filho mais velho, Dr. Domingos Antônio Pires de Carvalho e Albuquerque, morto em 1888, sem descendência.
E assim, passou o Castelo para o domínio de seu cunhado Tem. Cel. José Joaquim de Teive e Argolo, casado com uma das filhas dos Viscondes da Torre.
Teive e Argolo vendeu-o com as terras adjacentes ao Cel. Laurindo Regis, este ao Dr. Hermano Santana (pai) e este, por fim, ao Cel. Otacílio Nunes de Souza.
O último documento oficial que se conhece sobre a Casa da Torre é o titulo de Barão que se foi passado pelo Imperador em dezembro de 1822, no qual também se encontra a assinatura de José Bonifacio de Andrade e Silva, ao Cel. Antonio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, “em respeito aos grandes merecimento, e aos relevantes serviços que tem prestados com honra, patriotismo e dedicado entusiasmo em bem do Estado e da gloriosa causa da Independência e Constituição deste Império”.
Com a morte do último Administrador da Casa da Torre, em 1852, foi a mesma extinta, por força da lei de 6 de outubro de 1835, que fez desaparecerem os Morgados.