Movidos pela fé, milhares de religiosos percorrem o Brasil e o mundo para visitar festas famosas e templos santos. Dentro desse turismo religioso, tem ganhado visibilidade a capital baiana, que segundo a Secretaria de Turismo da Bahia (Setur) está hoje entre os destinos mais visitados do país pelos peregrinos, tendo como destaque a Lavagem do Bonfim e o Santuário de Irmã Dulce.
A ampliação de visitantes em Salvador para conhecer o que os festejos e espaços religiosos da cidade contribuiu para que a Bahia apresentasse um crescimento de 7% no turismo religioso, no acumulado de 2017 para 2018. São cerca de 5 milhões pessoas visitando o estado todos os anos movidos pela fé. Somente Bom Jesus da Lapa recebe 2,5 milhões de romeiros por anualmente.
“É mais uma alternativa de atividade do turismo no estado. A Bahia possui destinos e atrativos em ambiente de forte religiosidade, com capacidade de movimentar a cadeia turística, a exemplo dos setores de hospedagem, alimentação e artesanato, gerando emprego e renda. O turismo movido pela fé também leva os visitantes a conhecer outros atrativos, beneficiando o entorno do destino principal”, afirma o chefe da Setur, Fausto Franco.
Por meio da assessoria de comunicação, a pasta informou que possui entre seus objetivos apoiar o desenvolvimento e fortalecimento do segmento. Entre os investimentos do estado no segmento está a contribuição para a construção da Cidade Santa, comunidade fundada pelo Padre Paulo Avelino no município de Dias DÁvila.
O templo possui terreno de mais de 1 milhão de m² e reunirá 10 capelas com capacidade para receber 200 pessoas cada, além de uma esplanada para outras 100 mil e todo um centro no entorno que deve inclusive abrigar lojas e fábrica de velas e camisetas. Para muitos fiéis, o espaço deverá ter tamanha visibilidade quanto o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo.
Quatro dias de roteiro em Salvador
Com 372 igrejas espalhadas pelo seu território, Salvador é a única cidade onde estão enterradas duas beatas: Dulce dos Pobres e Lindalva Justos. Somados a tantos outros aspectos, a cidade é por si só um grande destino de turismo religioso, conforme analisa o padre Manoel Filho, o coordenador da Pastoral do Turismo (Pastur) na Arquidiocese de Salvador e também coordenador nacional da Pastoral do Turismo.
“É uma cidade que tem tradições e festas religiosas, que tem tudo. Muitas cidades hoje no Brasil, justamente por reconhecer a importância do turismo religioso, estão construindo atrativos. Nós já temos todos. E olha que nem estamos falando do turismo cultural, em igrejas, que é o caso do Centro Histórico. O turismo religioso é ligado a religião. Temos atrativos de pelo menos três ou quatro dias para o turista religioso, isso sem falar da ida, por exemplo, à Cidade Santa, visita a Candeias, Cachoeira, que daíra um bate-volta”, afirma.
Em grande parte, a retomada desse crescimento se deve justamente a Pastur, que há cinco anos tem desenvolvido ações para impulsionar o segmento, com destaque para o roteiro elaborado na Cidade Baixa, envolvendo a Basílica da Conceição da Praia, o Santuário de Irmã Dulce, o Santuário de Senhor do Bonfim, a Igreja de Alagados e o Mosteiro de Salvador – este último que fica em Coutos. O projeto teve apoio da Setur e do Sebrae.
É inegável que o poder público vem dando uma atenção importante para esse setor. Assim a gente vê as reformas no Largo de Irmã Dulce, a nova praça do Bonfim, a recuperação da fachada em Conceição da Praia. Existe um projeto muito bonito sendo desenvolvido para a Colina Sagrada. É a compreensão de que o turismo religioso é gerador de emprego e renda de forma constante, menos sazonal na sociedade. Não depende de datas, o turista religioso chega o ano todo e isso para a economia é muito valoroso. Nós, graças a Deus, no âmbito da evangelização, que é o que nos toca como igreja, já descobrimos isso e estamos fazendo o melhor. Quando o mundo empresarial e governamental de fato descobrirem isso como um fator de desenvolvimento humano e social, seremos uma referência não apenas no Brasil, mas no mundo", acredita padre Manoel.
Mais investimentos
Segundo a Setur, passaram por reforma nos últimos anos a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição do Boqueirão, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, o Cemitério e Igreja do Pilar, a parte externa da Ordem Primeira do Carmo, a Igreja do Passo e do Santo Antônio Além do Carmo, a Catedral Basílica, a Igreja da Conceição da Praia e a Igreja do Bonfim, além de monumentos religiosos no Terreiro de Jesus.
Entre as ações planejadas para este ano está a articulação de novos roteiros. Dentre os municípios que poderão ser contemplados estão Salvador, Candeias, Maragojipe, Cachoeira, São Félix e São Francisco do Conde.
Outra ação é a realização dos cursos do Programa de Educação para o Turismo (Proquali), em municípios turísticos da Bahia, dirigidas ao trade e direcionado para o turismo religioso.
A Setur dará apoio ainda ao II Congresso Internacional de Turismo Religioso, previsto para setembro na UCSal, e programa visitas técnicas e participação em eventos de cunho religioso pelo interior e em outros estados.
A Tribuna da Bahia tentou contato com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo durante dois dias, mas não obteve resposta sobre os investimentos realizados e previstos pela Prefeitura para o segmento.
Memorial e Santuário de Irmã Dulce recebem mais de 15 mil pessoas em um mês As obras de caridade e a história de amor de Irmã Dulce são referência no Brasil e de conhecimento no mundo. Juntos, o Memorial Irmã Dulce (MID) e o Santuário da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres receberam mais de 15 mil visitantes somente no mês de janeiro deste ano, um crescimento de 20% em relação ao mesmo mês de 2018. Se no ano passado os espaços receberam cerca de 69 mil pessoas, a estimativa para este ano é de mais de 80 mil visitas.
Segundo a museóloga do MID, Carla Silva, entre os fatores que contribuíram para o crescimento estão a exposição da cidade na novela da Rede Globo, Segundo Sol, além do levantamento do New York Times que colocou Salvador na listas dos principais destinos a serem visitados. A requalificação da Cidade Baixa também foi destacada.
“Desde o segundo semestre de 2018 estamos notando o grande crescimento no turismo religioso, nesse período de férias recebemos inclusive muitos turistas que vieram dos navios. Vamos ganhar em breve o Caminho da Fé, que vai ligar o Bonfim à Irmã Dulce. Tudo isso vai aumentar ainda mais o número de visitantes, ampliar a visibilidade. Nosso pedido é só que o soteropolitano também visite mais esses templos religiosos, conheçam o memorial e as obras de Irmã Dulce que são tão importantes para toda a Bahia”, pontua.
Segundo a assessoria de comunicação da instituição, do Brasil, os turistas chegam principalmente de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Já os estrangeiros são de países como Alemanha, França, Itália e Argentina.
Inaugurado em 1993, o Memorial Irmã Dulce reúne mais de 800 peças que ajudam a contar a trajetória de caridade, fé, determinação e amor ao próximo do Anjo Bom do Brasil. O hábito usado por Irmã Dulce, fotografias, documentos e objetos pessoais podem ser vistos no MID, que ainda preserva, intacto, o quarto da Mãe dos Pobres, onde está a cadeira na qual ela dormiu por quase trinta anos em virtude de uma promessa.
Com entrada gratuita, o espaço está aberto de terça a domingo, no horário das 10h às 17h.
Fonte: Jornal Tribuna da Bahia